Barreto, Mônica (Lua). Saltimbancos contemporâneos – seu aprendizado, suas escolhas e expectativas. 2018. 168 f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo, 2018.
Pela autora:
PRÉ-FÁCIL
Sim, inventei um elemento pré-textual. Precisava alertar o leitor
de que este é o trabalho de uma artista de circo e todos temos um palhaço lá dentro, lá no fundo, ainda que ele esteja dormindo. Este é um trabalho acadêmico, desenvolvido como dissertação de mestrado e, como
tal, procurou seguir todos os rigores acadêmicos. Mas minha palhaça
não aceitou dormir por todo o processo. Porque o processo é doloroso
e, quando eu sofro, ela corre em meu socorro.
E eu sofro! Ah, esta minha verve melodramática!
Sofri quando minha querida orientadora disse: seja menos informal. Sofri porque sei que ela tem razão. Mas minha palhaça não concorda. Ela grita, lá do fundo: é circo, faça a piada! Eu respirei fundo,
reescrevi. Mas sofri.
Sofri quando ela disse: esquece a lona, você está falando da rua. E
minha palhaça gritou que tenho serragem e a Escola Nacional de Circo
correndo nas veias! E eu teimei. Os professores do programa disseram
o mesmo. Ignorei. A banca de qualificação disse o mesmo. Bati o pé. Na
defesa, apanhei. De rolo de jornal, mas apanhei. Enfim, dei o braço a
torcer. Mas sofri.
Cometo algumas heresias acadêmicas aqui e ali, bem de leve. Informal demais, eu sei. Apaixonada demais, aceitem. Tentei ser leal aos
depoimentos, sem higienizá-los muito. Mantive expressões, gírias, palavras utilizadas no portunhol, palavrões… Procurei ser honesta com
a pesquisa, mesmo quando me deparei com temas em que todos me
aconselharam a não tocar. Não procurei, mas eles estavam lá. E minha
palhaça é tudo, menos covarde.