Wuo, Ana Elvira – Clown : “desforma”, rito de iniciação e passagem. Campinas: Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Programa de PósGraduação em Artes da Cena do Instituto de Artes da UNICAMP – obtenção do título de Doutora em Artes da Cena, na Área de Teatro, Dança e Performance, 2016.
RESUMO – O presente estudo tece apontamentos da iniciação clownesca por meio de tramas experimentais aviadas em momentos distintos, as quais culminaram no processo ritual da travessia do ator ao território da comicidade. Cruzamentos na teorização de Bergson, de Burnier, de Lecoq, de Propp, de Jung, de Eliade entre
outros alinhavam pontos subjetivos, entrecruzando teoria e práxis, estabelecendo conexões simbólicas e transgressoras. Nesse contexto, atribuições de noções preambulares clownescas ao trabalho do ator definem facetas cômicas variadas e ridentes. Descreveram-se e sistematizaram-se relações do ritual de iniciação e do processo criativo de clowns no curso “Aprendiz de clown”. O estudo compreendeu os desdobramentos e as influências da linha de pesquisa acerca do clown pessoal, tendo como ponto de partida a observação dos neófitos no rito de iniciação, a iniciadora, o clown retornando aos mestres e suas influências pedagógicas. A pesquisa contou ainda com a elaboração de questões que entram em cena como um conjunto interlocutor de composição da base do aprendizado. Para tanto, evidenciou-se a necessidade de elucidar ao iniciado um princípio, o qual se denominou “desforma” (este, um neologismo), noção mobilizadora e flexível em relação à percepção de outras lógicas de conhecimento que alia a “lógica
palhacesca” da comicidade e do risível; que também conduz a experimentação dos estados de esvaziamento, do escape de formas prontamente elaboradas; finalmente, que instaura a inventividade sobre os problemas, distanciando-se dos esquemas do pensamento intelectivo de resoluções de problemas. Contrariamente à lógica de raciocínio para solucionar e acertar, a “desforma” propõe a quebra do lacre da lógica concreta por meio de aventuras em caminhos não convencionais, nos quais o erro, o fracasso e a ausência de inteligência são princípios norteadores que mobilizam a percepção de si; são princípios que possibilitam a desconstrução da lógica concreta do cotidiano propondo um esvaziamento do sujeito em face a essa lógica, tendo como base o significado do fenômeno cômico proposto por Bergson, trazendo uma quebra do lacre das convenções sociais. A elaboração teórica, precedendo a prática, abordou as relações simbólicas, psicológicas e pedagógicas envolvidas no processo criativo dos clowns.