Maia, Marta Regina – Narrativas radiofônicas – Memórias da comunidade radiouvinte paulistana (1930-1950) – 157 p.. Santa Cruz do Sul: Editora Catarse, 2019.
PREFÁCIO
Laurindo Lalo Leal Filho
Este é um livro permeado pelo afeto. Suas páginas revelam como o rádio se perpetuou na memória dos que com ele conviveram, especialmente durante os chamados “anos de ouro”, entre as décadas de 1930 e 1950.
Meio de comunicação revolucionário, o rádio abriu a possibilidade – pela primeira vez na história da humanidade – de permitir que alguém pudesse ser ouvido por milhões de pessoas ao mesmo tempo, ainda que elas estivessem muito distantes umas das outras.
Ao constatar isso, em 1924, no Reino Unido, a revista Public Opinion não escondeu sua apreensão ao dizer que “Reith [John, fundador da BBC] tem um poder único que nenhum homem teve antes dele: o de entrar em milhões de lares simultaneamente. Não há poder como esse no mundo”.
A revista não errou. O rádio tornou-se o mais poderoso meio de persuasão, para o bem e para o mal. Permitiu o compartilhamento de ideias democráticas ao mesmo tempo em que serviu de instrumento de apoio para o surgimento e consolidação de ditaduras.
Reinou soberano até o início da década de 1950 quando as imagens da TV começaram a chegar a um número cada vez maior de residências. Para muitos seria o fim do velho companheiro de tanta gente, em todo o mundo. No entanto isso não ocorreu. O rádio, tal como o gato, parece ter sete vidas e a cada ameaça mortal ele se transforma e sobrevive.
Diante da força da TV, a tecnologia nova do transistor, associada ao uso de baterias cada vez mais leves, deu ao rádio a possibilidade de acompanhar o ouvinte a qualquer lugar, poder que a sua concorrente ainda não tinha.
Deixou para ela as grandes orquestras, as novelas e os programas de auditório, concentrando sua programação no tripé música, informação e esporte. Passou a transmitir também em frequência modulada, ganhando qualidade de som, mantendo o seu público e criando novos ouvintes.
