HASSAN, Ana Paula. O circo social e a possibilidade de construção de uma nova prática educativa para classes populares: um relato de experiência das percepções e vivências de educadores sociais. In Proceedings of the 1. I Congresso Internacional de Pedagogia Social, 2006, São Paulo (SP) [online]. 2006
RESUMO: “Levanta o sol suspende a lua olha o palhaço no meio da rua”.
Para as classes populares o sistema de educação formal tem-se mostrado ineficaz no processo de socialização das crianças e adolescentes e a ineficácia aumenta quando se trata da formação de cidadãos críticos e criativos, por estar calcado numa visão “bancária” de educação (Freire;1987). “Esta pressupõe um aluno desconhecedor, vazio de conhecimentos, sobre o qual o professor deposita os seus saberes”. Defendo, por conseguinte, a presença de outras esferas de socialização, diferentes da escola formal como espaços não-formais de educação, de arte-educação e de cultura para crianças e adolescentes das classes populares, por apresentarem metodologias e práticas que buscam construir novos saberes que possam contribuir para uma nova pedagogia. Encontro ressonância da minha prática de educadora popular nas idéias de Benjamin (1988). Em A Infância Berlinense, discutindo sobre a formação/educação das crianças, defende que a formação da criança se dá essencialmente fora do âmbito escolar. Tomo como reflexão a prática realizada no projeto de desenvolvimento local Dando Bola Pra Vida que se estrutura em cinco eixos: as crianças e adolescentes, famílias /comunidade, redes e políticas públicas, formação continuada para educadores sociais e pesquisa-ação. Tendo no centro das ações as crianças e adolescentes e é a partir do trabalho de arte–educação e cultura e mais especificamente utilizando a metodologia do circo social é que vamos dialogando com os outros eixos de ação. Em nosso trabalho temos buscado refletir como as crianças das classes populares constroem seus conhecimentos sobre o mundo que o cerca e como incorpora ou rejeita os conhecimentos que vão sendo urdidos nas múltiplas redes sociais e culturais das quais participam. Com o resultado das nossas atividades de circo social, tentamos influir para que a criança, o adolescente e o jovem possam re-significar de sujeitos invisíveis aos olhos de todos para ser valorizado como cidadão. Através do circo trabalhamos para que este, ao dar um saltos, piruetas e cambalhotas não desafie apenas a gravidade, mas possa compreender os desafios da vida, podendo assim, se potencializar cada vez mais para compreender mais seu estar no mundo. Assim, o circo social possibilita trazer à cena seus saberes antes invisíveis, que vão sendo traduzidos em múltiplos aportes culturais, tão necessários no dialogo com a escola, a família a sua comunidade e seus pares. A prática reflexiva se revela então uma importante estratégia pedagógica, pois se desenvolve como um processo de reflexão sobre o conhecimento na ação, ou seja, a reflexão acontece quando na prática os educadores sociais, junto com crianças e adolescentes, compreendem que utilizam rotinas construídas a partir do conhecimento cotidiano. A reflexão sobre o conhecimento na ação leva o educador, assim como as crianças e adolescentes à indagação sobre os conhecimentos implícitos em sua atuação, permitindo uma nova compreensão do que acontece ao seu redor, em sua vida. Cria-se a partir do processo de reflexão-ação condições favoráveis à transformação das diversas situações enfrentadas em seu cotidiano. A partir da prática reflexiva buscamos autores como Freire, Benjamin, dentre outros, para que possamos dialogar e dar suporte às nossas ações. Para nós, nosso espaço de convivência onde realizamos atividades de teatro, música, circo, esportes e brincadeiras se constitui em um “entre–lugar” (Bhabha, 1998), de diferentes culturas e lógicas, em que crianças e adolescentes vão se resignificando, se fazem críticos e criativos, dialogam e afirmam sua diferença de pensar, de dizer , de escrever e de ler o mundo, e se transformando e transformando o mundo.