” Vida…. Asas de Querubim, na careta do Palhaço
alegria não tem fim”
“E se o Palhaço morreu!! O sonho dele é meu!!”
Ao som de estrofes como essas que seguia a multidão de aprendizes junto ao carro de bombeiros que levava o corpo de Mestre Zezito, envolto na bandeira do Brasil. Emocionados ecoavam pela longa fileira de carros, pedestres, pernas de pau, monociclos e ônibus com estudantes das escolas por onde o Mestre passou, a expectativa de uma continuidade daquele sonho.
Neste mesmo período se discutia nos Fóruns representativos da cidade a necessidade de um Encontro, uma Mostra, ou qualquer forma de organização dos fazeres e saberes em torno do circo produzido no DF e Entorno.
Ali, a multidão se reduzia a apenas alguns gatos pingados interessados na provocação para transformação.
Brasília estava pulverizada, sendo vítima da sua própria imaturidade. Em terra onde o velho tem no máximo 50 anos, se encontra um movimento vivo, jovem, passível de crescimento em larga escala e em curto espaço de tempo. Seguíamos confusos, porém empoderados, lapidando as relações e buscando caminhos possíveis para evolução do mercado de circo dessa região.
O encontro era necessário. Mas como encontrar? Para quê? Com quem? Por quê?
Foi aí, que o Fórum de Circo do DF e Entorno, a Cooperativa Brasiliense de Teatro e o extinto Movimento Rua do Circo se uniram. Imbuídos dos conhecimentos vivenciados no Circo Boneco e Riso, com nosso querido Mestre Zezito, transgrediram o movimento da época, naturalmente individualista na Capital.
Tomaram então, a iniciativa de lançar a I Mostra Zezito de Circo, espaço para troca, intercâmbio, apresentação e reconhecimento do “Circo Candango”.
Com uma verba risível, uma equipe excêntrica e pontos de vista bem distintos se tornam possível a existência de movimentos como esse, única e exclusivamente pela disposição e generosidade em alterar o DNA produtivo circense da cidade.
Foi ali na lona do Movimento Rua do Circo, montada no Clube da Imprensa, com a estrutura de produção da Cooperativa e força de trabalho de voluntários do Fórum que nasceu uma nova forma de relacionamento, de aprendizagem, de troca e de formação.
Mestre Zezito entra na História como o maior provocador na formação de valores artísticos, humanos e sociais, impregnando toda uma geração que, aos trancos e barrancos, se colocaram frente a frente e proporcionaram momentos de alegria, arte e amor.
Já era de se esperar que a repercussão do evento ultrapassasse as expectativas e trouxesse uma multidão de artistas e admiradores para a Mostra.
E como o enorme sucesso conquistado já no seu primeiro ano de vida, torço para que a Mostra Zezito de Circo vença um grande desafio:
Como tomar proporções glamorosas com patrocínios e logomarcas que envolvem ações políticas, de visibilidade e manutenção de ego de seus produtores da vez, sem perder a essência propulsora de seu nascimento. A necessidade de valorização, respeito, maturação e legitimidade de um movimento coletivo, formado por indivíduos autônomos e independentes entre si.
Acredito ser esse um desafio não restrito somente a essa mostra, mas sim a todos os movimentos que partem da arte como princípio, da multiplicação como meio e da eternidade como fim. Se é que esse fim é possível…
Vida longa a nova Vida!!!
Joana Henning
Membro Criadora da Mostra
Brasília, 20 de agosto de 2010.