Quem é você?

Texto publicado no blog do autor, em 25.11.2008 – http://magianasveias.blogspot.com/


Uma questão importante na formação de um mágico é o encontro da sua personalidade artística.

Alguns chamam esse processo de construção da personagem, mas eu prefiro chamar de encontro da personalidade artística, pois o processo de construção de uma personagem é coisa diferente do nosso tema de hoje.

Um mágico pode ou não construir um ou mais personagens. Porém, sua personalidade artística é algo que ele terá que encontrar, a menos que queira ser um eterno refém das circunstâncias.

Michelângelo ao ser perguntado sobre como era criar uma obra de arte respondeu:
– A obra de arte já existe dentro da pedra… Eu apenas tiro o excesso de mármore.

A pedra é você… É você no início desse processo. A sua personalidade artística é a obra de arte latente e oculta nessa pedra bruta.

Já parou para se perguntar o que você tem de melhor? Sim? Ótimo. Provavelmente a sua resposta estará errada… Mas já é um bom começo.

Em mais de dez anos formando mágicos, na maiorias das vezes que fiz essa pergunta a um novo aluno que já fazia alguma coisa a resposta foi: Eu gosto de cartomagia!

“Gosto”, sabemos todos, é a forma modesta de dizer no que que se considera melhor.

Ao longo de um ano de convívio, a grande mágica é ver essas pessoas descobrirem que a obra de arte, escondida em seus mármores individuais, era muito diferente da que se pensava originalmente. Essa é a verdadeira magia na relação entre professor e aluno. E é mágico também para mim ver que ao longo de um ano de trabalho dirigido a proporção se inverte: Nove entre dez, descobrem-se em outras modalidades e características do fazer mágico.

E quando se está só? Qual o parâmetro? O parâmetro, meus caros (e raros) leitores… É a magia.

Você ja percebeu, ao longo de sua jornada, seja ela recente ou antiga, que há coisas que você faz e agrada? Já notou que há coisas que você faz e surpreende? Sim? Ótimo!
Por outro lado, já parou para notar que há coisas que você faz e encanta? Encanta ao ponto do espectador se render a aquele momento como se real magia fosse? Esses momentos são os que lhe concedem algumas pistas sobre que artista mágico há em você!
Mas para que você descubra isso, terá que aprender a não retirar todo o excesso de mármore antes de saber qual a obra que tem naquela pedra.

Para se dizer com boas razões: “O que eu gosto é determinado campo da arte mágica”, é necessário, no mínimo, conhecer os demais. Caso contrário você poderá estar dando uma marretada no nariz da Pietá… Em outras palavras, você poderá estar descartando exatamente a possibilidade que mais lhe traria sucesso e momentos mágicos.

Por isso o caminho da cópia tem resultados tão fracos quanto rápidos. Você não parou para se perguntar quem é você…
Você não conheceu todas as suas possibilidades antes de optar o que manter e o que jogar fora. E jogou fora a bela obra de arte que havia no interior da sua pedra bruta:

E essa obra de arte era o seu verdadeiro potencial, o seu próprio talento: A sua personalidade artística, desprezada em cacos espalhados pelo caminho e substituída por uma fôrma. Uma fôrma com um formato bem diferente daquele que traria à tona o que você verdadeiramente teria de melhor.

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