“Esta crítica foi premiada e classificada em terceiro lugar no Concurso Estadual de Estímulo a Crítica Cultural – 2011 da Fundação Cultural do Estado da Bahia – FUNCEB”.
O mundo das comissárias de voo foi o tema abordado nas apresentações que aconteceram entre os dias 08 e 31 de junho, no picadeiro da Escola Picolino de Artes do Circo. O espetáculo intitulado “Moças Aéreas” foi a estreia de um grupo, composto por onze artistas, que formou a tripulação da companhia que levou o público a embarcar em uma viagem rumo ao universo circense. Luana Serrat, que, além de diretora e criadora do espetáculo, também empresta o nome à Companhia, é uma baiana de exímia destreza na arte circense e uma referência para muitos artistas que buscam, ou desejam, se aproximar das técnicas aéreas do circo. Filha de um dos pioneiros no trabalho com o circo e com o circo social no Brasil, a Instrutora/Educadora também é integrante da Companhia Picolino e da Fulanas Cia. de Circo.
Nesse espetáculo, o cenário, a música, o figurino e a maquiagem das artistas fazem transparecer o cuidado da direção em produzir uma imagem que se aproxime, ao máximo, do espaço de um aeroporto, do fardamento e da convencional maquiagem das aeromoças, acrescentando-se, é claro, os detalhes que são particulares ao contexto espetacular.
Ao entrar no circo, o público depara-se com um espaço que mais parece o portão de embarque de um aeroporto. Ali, os passageiros são convidados pela tripulação de artistas a adentrarem na aeronave circense que os conduzirá a um mundo mágico. Ao embarcar, seguindo a lógica da similaridade, o público é acompanhado aos seus assentos que, como em um avião, são divididos em classe econômica (arquibancada) e classe executiva (reservado), após terem passado pelo check-in de direcionamento.
A preocupação com os detalhes se estende também à mensagem introdutória da apresentação: “senhores passageiros do voo…, favor se dirigir ao portão de embarque…” ou ainda: “última chamada para o voo…”.
Nessa ambiência, os sons têm o seu papel de destaque e se fazem ouvir nas sinalizações de chamadas de embarque e, inclusive, nos slogans expressos por meio dos jingles de várias companhias aéreas e músicas tocadas por Beto Portugal. Seguramente, o público agrada-se com os sons aprazíveis soados por esse insigne músico, que realiza distintamente o approach entre a música e os números circenses.
O figurino das “Moças Aéreas” é bem característico, contudo veem-se ressaltadas as cores vibrantes da roupa de cor azul, com direito a lencinho cor-de-rosa envolto no pescoço e, para dar um toque especial, um cinto de tonalidade dourada.
O ritmo do espetáculo é dinâmico, e começa com uma coreografia de dança na qual as artistas realizaram o primeiro contato com a platéia. Logo depois, vêm os números que destacaram as técnicas circenses – corda vertical, lira, quadrante, tecido, malabarismo, palhaço – embebidos em uma boa dosagem de técnica teatral que fazem transparecer, não apenas o trabalho, mas também a experiência de anos de picadeiro da diretora.
No número da lira, três artistas ousam na utilização do aparelho explorando, desde figuras estáticas no ar, a movimentos de subidas e decidas, estabelecendo constantes contatos com o solo do picadeiro, demonstrando harmonia e, muitas vezes, sincronia na atuação. Nessa parte da apresentação, o público assiste ao momento da partida da nave circense e nela todo o ar de saudade, consequência da separação, do distanciamento.
O espetáculo continua e, em meio a essa efervescente atmosfera aérea, não poderia faltar um número clássico de dublagem, repleto da comicidade clownesca, para fazer o público rir. Um jovem senhor é convidado a participar “voluntariosamente”. A colagem de várias músicas – “Fatalidade”, de Diana; “Olha” e “Como vai você”, de Roberto Carlos; “Eu sei que vou te amar”, de Tom Jobim; “Depois do prazer”, de Alexandre Pires; “Vingativa”, do extinto grupo As frenéticas; e “Não se vá”, de Jane e Herondy – construíram a narrativa e deram vida a uma história divertida, quebrando a tensão e preparando o público para o próximo número.
A finalização do espetáculo acontece com uma belíssima apresentação de tecido acrobático no qual as acrobatas, dando vulto à sensualidade feminina, revelam leveza e intrepidez na execução dos movimentos e, por terem sido estes realizados de maneira tão suave e sublime, encobrem o risco envolvido no desenvolvimento da técnica. Nesse número, vê-se representada a chegada da nave circense, saudada por uma platéia entusiasmada, que aplaude energicamente, ao seu tão esperado destino.
Contudo, vale acrescentar que, em alguns números apresentados, é patente a simplicidade, talvez por opção, no desenvolvimento de movimentos, os quais deixam de surpreender o público com uma ação mais ousada e inesperada. Apesar disso, deve-se salientar que, mesmo sem muitos truques complexos, o espetáculo é dotado de harmonia e organicidade, o que faz a apresentação se mostrar muito leve e agradável ao espectador.
Enfim, Moças Aéreas é um espetáculo bom, bem ensaiado, que vale a pena assistir.