Mr. Chocolat

Mr. Chocolate, um palhaço brasileiro em terras européias.

Quero, desta vez, convidar a todos para seguir o caminho de um palhaço brasileiro, negro, e que praticamente nunca se apresentou em solo brasileiro, como verão a seguir.

Era uma vez… o início do século XX…

Enquanto na Europa ainda se vivia a Primeira Grande Guerra, no Brasil, um garoto negro se metia por debaixo da lona do Circo Rastelli (que fazia turnê em terras tupiniquins), para ver os acrobatas saltadores. Sempre que o pilhavam, diziam “Fora daqui!”. O negrinho obedecia para, logo em seguida, entrar outra vez por debaixo da lona.

O velho Oreste Rastelli, numa dessas, parou o negrinho e lhe perguntou como se chamava, e este respondeu:

“Aristides Alves Ferreira, e sou muito bom nos saltos”. Foi convidado a subir na cama elástica mas, como nunca o tinha feito antes, de um salto voou longe e caiu sobre o chão duro. Mesmo assim, implorou para ser aceito no circo e Oreste, atendendo a seu pedido, foi falar com o pai do garoto, que autorizou a ida de Aristides junto ao Circo Rastelli… começava a vida de “Chocolate”.

Poucos anos depois, e já com a chegada prevista de Alfredo (Alfredo Rastelli, que seria um dos grandes clowns da história), Oreste decide voltar para Europa e Aristides vai com ele, como parte já da família. Lá apresentam um número acrobático usando o nome “The Rastellis”, do qual Aristides faz parte.

Em 1932 estréia o mais famoso número claunesco da história dos Irmãos Rastelli, uma entrada musical que, a princípio, se chamava “Chocolate & Co.”. É, talvez, a entrada musical mais conhecida e copiada da história dos palhaços. Essa entrada misturava números musicais e recursos acrobáticos, além de muita maquinaria e efeitos especiais. (veja video indicado). A formação desse número teve inúmeras variantes inclusive com a saída de Chocolate e a entrada de Vittorio, neto do já falecido Oreste Rastelli, em seu lugar. O número, posteriormente, passou a ser apresentado baixo o nome de “Les Rastelli”.

Na turnê dos Rastelli pela Noruega, no período pós-guerra, Aristides conheceu Elsy, a governanta do dono de um dos circos para o qual os Rastelli trabalhavam. Elsy era uma mulher alta, de 1,80m, enquanto o palhaço brasileiro, apesar de famoso e elegante, era dono de uma pequena estatura, alrededor de metro e meio. Aristides e Elsy se casaram e continuaram juntos a bem-sucedida turnê dos Rastelli pelos maiores circos da Europa até que, em 1967, devido a crise depressiva de sua esposa, Aristides resolve voltar para Noruega junto a ela. Apesar de todo seu sucesso, Aristides parte pobre.

Na década de 70 os Rastelli voltam a se apresentar em Oslo, na Noruega. Numa das viagens, Alfredo ve um negro baixinho vendendo jornais na estrada, era Aristides. Conversaram muito, Aristides contou que sua esposa estava livre da depressão, mas que trabalhava duro, pis a venda de jornais não bastava para sustentar a ambos. Contou também que estava com problemas nos joelhos, devido aos anos e anos de saltos e quedas e que, provavelmente, lhe amputariam a perna.

Aristides morreu em 1978, em cadeira de rodas e pobre… foram setenta anos de saltos, risadas e dores… a vida do circo.

Nossa respeitosa homenagem ao palhaço brasileiro de maior sucesso no exterior, e tão pouco conhecido no Brasil.

O resgate desta história, também é um convite para que você, que é ou tem um parente ou conhecido palhaço, nos envie material para que possamos contar a história de cada um desses personagens que ajudaram ou ajudam a construir esse maravilhoso mundo do nariz vermelho.

Dessa forma, com certeza, estaremos contribuindo para a preservação dessa arte milenar, pois para preservar é preciso amar e para amar, é preciso conhecer.

Veja o video com Chocolate e os Rastelli

Fontes:

Sites:

Pat Cashin’s Clownalley.net

Circusnews.com

Circus Scandinavia.

Stazione Paradiso.

Livro:

Biografia de Enrico Rastelli.

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