O CIRCO DA FRONTEIRA: A ESCOLA CIA DA LONA DE CORUMBÁ – MS
Por Marco A C Bortoleto
Abril de 2014
Em mais uma viagem, desta vez em pleno pantanal brasileiro, visitei um fantástico projeto circense, uma empreitada comandada por três entusiastas da arte – Branca, Flávio e Marcos – que gentilmente aceitaram conceder a entrevista que segue.
Como, onde e porque começa o projeto Cia da Lona?
Quando um grupo de amigos é convidado por Paulo André L. Borges (DF) a participar de um curso de capacitação circense (2002 a 2005) com a intenção de auxiliar a inclusão social de comunidades carentes através dos conhecimentos circenses. Os treinos aconteciam no Instituto Luis de Albuquerque, espaço cedido pela grande e única incentivadora do circo Heloisa Helena da Costa Urt , Diretora Presidente da Fundação de Cultura do Pantanal de Corumbá.
Como aconteceu vossos encontros com o Circo? Onde, como e porque?
Para Branca e Flávio o circo começou em 2002, através de um convite feito por Bianca Machado, Cia de Teatro Maria Mole Corumbá – MS, desde então passamos a fazer parte de um grupo de 10 pessoas com o objetivo de auxiliar a inclusão social de comunidades carentes através das técnicas circenses. Nossos treinos eram intensos e a cada mês P. A. Borges trazia novas técnicas e novidades do Centro de Treinamento de Artes Circenses Setor Leste (DF) que tinha como mestre o professor Ronaldo Alves de Souza. Apesar da distância tudo chegava muito rápido para o grupo que cada vez mais se fortalecia na arte circense. Assim passamos a participar durante cinco anos incansavelmente de treinos, pesquisas, oficinas, reuniões do grupo, viagens, festivais, apresentações, confecções de equipamentos e materiais de segurança, tudo feito com recursos próprios de cada integrante, tudo para que a qualidade das aulas e apresentações sempre melhorasse. Foi então que nos tornamos uma família batizada nas águas do Pantanal com o nome de Cia da Lona, unida pelo trabalho e o amor ao circo. Durante esses cinco anos o grupo foi o mesmo trabalhando em Corumbá e arredores. Já em 2005 surgiu à ideia de navegar com o circo, e a partir daí vivemos O Navegando no Rio dos Sonhos, uma experiência única de magia, alegria, encantamento, fantasia, transformação e vida… as pessoas nunca mais foram às mesmas. Em 2007 o grupo se dissolve devido a outras responsabilidades que a vida de cada um chama e, dos integrantes iniciais, ficaram Branca Batista e Flávio Bertini. Eles deram continuidade ao trabalho e paralelamente trabalhavam com cenografia em espetáculos, confecção de bonecos gigantes, teatro de sombras, vários projetos e outras atividades ligada à arte, fazendo boas parcerias, entre elas: o Studio de dança Ana Paula Honório, onde ministraram aulas de circo para crianças, adolescentes e adultos durante três anos e, com Marcos Tiaen, que conheceu o grupo ainda em 2006, ministrando aulas de acrobacias de solo. Depois, em 2008, em parceria com o projeto Navegando no Rio dos Sonhos segunda edição e no ano de 2011, fundando juntos a sede própria da Cia da Lona.
Por outro lado, para mim (Marcos) o encontro com o circo foi por acaso… quando em 1995 entrei na faculdade de educação física da UNICAMP, o meu intuito era ser um grande professor de natação, porém as diversas experiências que a vida acadêmica me proporcionou fizeram com que eu me apaixonasse pela ginástica artística e me tornasse um praticante tardio (já tinha 20 anos). Foi nesta época que encontrei no circo a extensão de uma prática que me remetia aos meus sonhos de criança… saltar, voar, “ficar de cabeça para baixo”, que se concretizou com a formação de um grupo de palhaços acrobáticos, que utilizava-se de saltos no mini-trampolim para arrancar gargalhadas das crianças. Conjuntamente com essa experiência montei uma dupla de força e equilíbrio – uma das modalidades circenses -, conclui o meu curso com uma monografia onde realizei uma pesquisa de campo e um acompanhamento de treinamento para essa modalidade, iniciando de fato o meu casamento com o “circo”. Por ai já se passaram longos 15 anos, e como qualquer união, cheio de idas e vindas, apresentações, estudos, pesquisas, dissertação e por fim a “Cia da Lona”.
Onde fica? Que tipo de instalações? E como sobrevive a Cia da Lona?
A Cia da Lona está localizada no município de Corumbá, a sua sede fica na rua Mato Grosso n°70. Nossa empresa possui instalações próprias que são divididas em quatro ambientes: o primeiro ambiente é composto pela secretaria e sala de espera dos pais; o segundo ambiente é composto pela sala de acrobacias de solo, saltos, malabares, perna-de-pau, equilibrismo; o terceiro ambiente é composto pela sala de aéreos, onde todos os aparelhos são contemplados com colchões de segurança e, por fim, a área externa onde se encontram os banheiros e um lounge para os pais. A escola Cia de Lona é uma instituição particular e sobrevive fundamentalmente das mensalidades dos alunos.
Vocês poderiam contar-nos um pouco sobre o projeto Navegando no Rio dos Sonhos?
Em 2005, através da iniciativa da Cia da Lona e da companhia de teatro Maria Mole, aconteceu a primeira edição do projeto Navegando no Rio dos Sonhos, cujos objetivos e detalhes podem ser vistos no vídeo http://www.youtube.com/watch?v=EQM0VsqsRAw).
Em 2007/2008 foi idealizado a segunda edição do projeto Navegando no Rio dos sonhos, agora com uma parceria entre a Cia da Lona e a Pró- Reitoria de Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis da Fundação Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, com apoio do Programa de Extensão Universitária PROEXT 2007-MEC/SESu/DIPES. Essa experiência deu-se no âmbito das comunidades isoladas do rio Paraguai por meio do projeto de extensão “Navegando no Rio dos Sonhos – 2ª Edição: uma vivência em técnicas circenses e literatura infantil com professores de comunidades ribeirinhas”, que levou, entre outras atividades, o conhecimento circense, às populações da Região do Paraguai – mirim e Serra do Amolar (Pantanal Sul Mato-grossense), propiciando o contato com a cultura e realidade dessas populações, bem como com os desafios dos docentes que lá atuam (vide vídeo http://www.youtube.com/watch? v=9PEwjPgM1rk)
Quais atividades, cursos e projetos vocês oferecem na Cia da Lona?
Oferecemos tecido acrobático, trapézio fixo, lira, acrobacias de solo, perna de pau, malabares e cursos de maquiagem artística. No fim de cada ano formatamos um espetáculo onde os alunos participam e vivenciam a magia de um espetáculo circense.
Como, em vossa opinião o Circo vem se desenvolvendo no Mato Grosso do Sul? Quais circos e companhias têm frequentado Corumbá e os arredores?
O desenvolvimento do circo nessa região do Brasil tem acontecido gradativamente, porém de maneira constante (mais informações em:
http://panoramahistoricodocircoemms.blogspot.com.br)
Os circos que frequentaram Corumbá nesses últimos quatro anos foram Circo Zanckettini, Circo kroner e o Circo Beto Carrero. Porém, em Campo Grande outros tantos, como o Circo da China, Circo Tihany também se apresentaram nos últimos anos. Temos ainda o Festival America do Sul que acontece todos os anos aqui em Corumbá onde diversas companhias de circo, teatro e dança de todos os países envolvidos comparecem com novos espetáculos e oficinas.
Quais são seus grandes sonhos e os grandes desafios para o futuro?
Nosso grande sonho é que o Circo, como patrimônio cultural universal da humanidade, venha a se tornar uma atividade mais democrática em relação à acessibilidade da prática, que tenhamos políticas públicas e incentivos para disseminar essa atividade fascinante. Esse é nosso grande desafio, a nossa semente já esta plantada, esperamos que a nossa colheita seja farta.
Mais informações:
http://www.diarionline.com.br/?s=noticia&id=30625
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Enfim, agradecemos tudo o que vocês têm feito pelo circo em vosso estado e esperamos que novos projetos permitam que seus sonhos alcancem muitas mais pessoas. Meus sinceros agradecimentos pela generosidade, pela dedicação ao circo, à cultura e a sociedade brasileira!
Marco A C Bortoleto
Campinas – SP
CONFIRAM O PDF COM A ENTREVISTA E SELEÇÃO DE BELAS IMAGENS DA CIA. DA LONA !