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Anjos do Picadeiro: história em ato

Silva, Erminia – “Anjos do Picadeiro: história em ato”. In: Revista do Anjos do Picadeiro 5. Edição bilíngue (por/ing). Rio de Janeiro: Teatro de Anônimo; Editores Ieda Magri e Sidney Cruz, Publicação do 5º Encontro Internacional de Palhaços, dezembro de 2006, pp. 8-19

Sobre o que escrever para aqueles que não estiveram no Anjos do Picadeiro 5, ou mesmo para que as gerações futuras possam ter uma noção do que aconteceu nesse evento? E para aqueles que estiveram? Não sou artista, mas nasci no circo de lona, sai dele, tornei-me uma historiadora, sou professora de história de circo, escrevo e atuo como militante das atividades circenses. E, aí, não teve jeito, decidi escrever do lugar de professora/historiadora/militante circense e trabalhar com algo que venho insistindo com meus alunos, e em alguns de meus textos, a necessidade de se pesquisar fontes históricas.

Não será possível, dentro das propostas desse texto, desenvolver uma análise histórica desde o primeiro evento, em 1996. Entretanto, é importante sabermos que a produção do Encontro, naquele ano, já dialogava com toda uma história construída pelos sujeitos históricos – artistas ou não – circenses, teatrais, da música, da dança, das artes plásticas, entre outros. Esse diálogo, tenso em si, de disputas, de acordos, de identificações, de diferenças e semelhanças, foi sendo feito e refeito durante os 10 anos, cotidianamente. A cada encontro novos/velhos temas e debates foram colocados e recolocados, articulações e reencontros entre vários dos sujeitos participantes e componentes desse processo: artistas, produtores, empresários, pesquisadores, escolas de circo, professores, alunos, auxiliares, porteiros, carregadores, faxineiras, iluminadores, cenógrafos, cozinheiros, recepcionistas, patrocinadores, entidades de classe, governamentais ….. e, o mais importante para todos, o público.

Nesse sentido, a produção de um encontro internacional de palhaços que, em 2006 realizou uma edição comemorativa de dez anos dos Encontros, tem que ser visto, dentre muitas outras propostas, como um fato e um marco para a pesquisa histórica sobre o processo de produção cultural artística, no Brasil, e em particular da teatralidade circense na sua expressão da comicidade.

Como é que posso entrar nisso do meu lugar?

Explorando as fontes, que implica na construção de conhecimento a partir de diferentes memórias: orais, documentais, fotográficas, musicais, poéticas; sem desconsiderar que uma delas foi a minha própria vivência desse Encontro, de 2006, como observadora, pesquisadora e público. A minha relação com o evento estará permeando todas as análises sobre o mesmo. Um lembrete importante, aliás, todas as fontes sempre passam pela interpretação do(s) pesquisador(es), não sendo ingênuo a ponto de acreditar que as fontes são espelhos da realidade e o pesquisador um mero observador de fora; os acontecimentos são também construídos pelo narrador. Assim, é importante entender, que o documento e/ou uma análise sobre um fato, não é o retrato do que aconteceu, ao contrário, ele participa efetivamente da construção desse fato como um acontecimento histórico – comportando-se como vestígio de uma prática e mesmo seu desaparecimento ou esquecimento é revelador dessa prática.

Como para conhecer é preciso recortar, pois não é possível nem registrar todas as informações e documentos, ou mesmo todas as versões da história, que cada um dos sujeitos implicados no processo portam e produzem, para este texto vou me restringir a algumas fontes e fazer um recorte temático, dentre os muitos que podem ser realizados, em cada Anjo. Vou me deter no tema homônimo do quinto Encontro: a diversidade.

Por quê este recorte temático? Porque ele está presente em todas as propostas desses dez anos de Anjos do Picadeiro. Percorreu todos os textos escritos do que se propunha ou que se queria que fosse os Anjos, desde o primeiro deles: um intercâmbio, um escambo, uma troca de experiências.

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