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Enquanto eles não vêm – [artigo sobre o livro Cirque Du Soleil – A Reinvenção do Espetáculo – 2006]

Enquanto eles não vêm 

De: Lyn Heward

O Estado de S. Paulo, 06 de junho de 2006. 


O livro Cirque Du Soleil – A Reinvenção do Espetáculo conta a rotina dos artistas da trupe mais famosa do mundo que, em agosto, chega pela primeira vez ao País Livia Deodato Foi justamente Saltimbanco o espetáculo que convenceu Lyn Heward , em 1992, a trabalhar com a mais famosa trupe circense do mundo, o Cirque du Soleil. É a montagem que alguns brasileiros vão conferir no segundo semestre. “Quando vi aquele véu branco imenso que cobre o palco e a forma surpreendente como ele desaparece para o início do show, tive a certeza de que ali era o meu lugar”, conta a autora do livro, que acaba de ser publicado no Brasil, Cirque du Soleil – A Reinvenção do Espetáculo (Ed. Campus/Elsevier). A ex-presidente da Divisão de Conteúdo Criativo do Cirque, hoje colaboradora de projetos especiais interinos, contou com a ajuda do jornalista americano John U. Bacon , que foi quem escreveu a obra que chega ao País num momento para lá de conveniente – a partir de agosto, o Cirque du Soleil faz miniturnê em São Paulo e Rio pela primeira vez. “Eu tive a idéia inicial e criei o contexto. Após lermos alguns textos já produzidos por John, achamos que ele seria a pessoa ideal, não só capaz de entrevistar muitas pessoas, como também aberto a vivenciar experiências com o Cirque”, diz Lyn. A Reinvenção do Espetáculo é um passeio pelos bastidores do Circo do Sol, nascido em Quebec, no Canadá, em 1984, quando alguns artistas circenses de rua decidiram se juntar para montar algo inovador e surpreendente. A história do livro é contada por Frank, um agente esportivo cansado de sua vida que, há muito, estava sendo levada “no piloto automático”. Em um cassino de Las Vegas, chamam sua atenção dois homens vestidos com uniformes pretos que se dirigem a uma porta branca afastada dos caça-níqueis. Frank decide segui-los e, após ultrapassar sete portas num longo corredor, chega ao centro do picadeiro de Kà, espetáculo fixo do Cirque no teatro do MGM Grand Hotel, em Las Vegas. Aí começa a aventura de Frank pelo mundo mágico e criativo dos trapezistas, malabaristas e contorcionistas que já encantaram boa parte do mundo. Frank nada mais é do que o próprio John U. Bacon. “Foi uma das experiências mais incríveis da minha vida. Graças a Lyn, eu não só entrevistei mais de 200 pessoas, como também vivi o dia-a-dia dos artistas, como se fosse um deles”, conta Bacon. Lyn, no livro, é Diane, a cicerone de Frank por todas as etapas de treinamento de diversos artistas vindos de vários cantos do mundo – inclusive brasileiros, que John qualifica como “pessoas amorosas, criativas e relaxadas, que se destacam dentre as outras pela forte personalidade que imprimem aos seus papéis”. “Os personagens são baseados em pessoas reais. Muitos deles são compostos por características pessoais de três ou mais pessoas que trabalham no Cirque. Como eu tive a intenção de fazer um tributo às mais de 3 mil pessoas que integram o Soleil, seria muito difícil selecionar apenas 10 ou 20 pessoas e contar suas respectivas histórias”, explica Lyn. Ou seja, Frank (ou John) realmente suou a camisa para poder escrever e publicar um livro fiel à rotina do Cirque. “Durante os seis meses de entrevistas e experiências, dois momentos me foram mais difíceis de superar: o trapézio, onde tive de vencer o meu medo de altura e ficar a 7,5m longe do chão, e a maquiagem, que demorou três horas para ficar pronta, quando qualquer artista do Cirque se prepararia em 30 minutos”, diverte-se Bacon. Segundo Lyn, o trabalho mais difícil foi o de editar o livro. “Se fôssemos publicar tudo o que John coletou, teríamos cerca de 2 mil páginas, o que daria para planejar uma série de livros sobre o Cirque”, brinca Lyn. Além disso, ela sublinha a dificuldade que teve de aproximar a escrita, os diálogos, ao vocabulário usado no Soleil. “O objetivo foi transpor para o livro o léxico da trupe, incluindo os fortes sotaques de cada idioma sobre o inglês. Isso faz parte do nosso processo criativo, nós aprendemos a lidar com diferentes línguas, respeitamos diversas perspectivas e pontos de vista, uma vez que temos pessoas vindas de todos os lugares do mundo.” A maior lição tirada por Bacon de toda essa experiência foi o constante desafio proposto diariamente aos integrantes do Cirque. “Seria muito fácil para um trapezista apresentar o mesmo número todos os dias. Mas os técnicos o incitam a deixar a sua zona de conforto, sempre o desafiando a ir além. Para mim, aí se resume a genialidade do Cirque du Soleil.”

Sobre o autor:
Heward, Lyn
Lyn Heward foi presidente e COO da Divisão de Conteúdo Criativo do Cirque du Soleil e produtora executiva de vários projetos de sucesso.

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