Tempestade I

A noite é a única testemunha,
esta eterna batalha, numa luta desigual:
entre nós, o silêncio da noite
e esta enorme tempestade,
quem merece a vitória?

Como será este final?

Quem galgará a glória?
O passado  refletido no espelho d’água,

mostra os reflexos das vaidades pessoais;

vejo sem querer, muitas sombras,

muitas imagens sobre a linda lona,

tatuada por vários temporais!
Os aplausos ainda ecoam, silenciosamente,
com as cadeiras ainda dormentes,
brincando feito criança, num efeito dominó!
Imagens contagiantes, alegria descomunal,

nesta tempestade,

deste espetáculo sobrenatural.
Nesta tempestade, só de olhar distante me dá dó,
o palco se ilumina com os clarões dos raios,
dando brilho o dorso dos homens suados,
e realçam as lágrimas que em meu rosto
bailam sem parar, lembrando a despedida,
dos que se apaixonam pelo circo
e não podem acompanhá-lo!
A magia do último espetáculo ainda paira no ar!
Profundo mistério, mistério que envolve o aroma
do perfume da serragem,
que sobe pelas veias, invadindo os corpos,
sem pedir passagem!
As ambições, os sonhos, as miragens!
Todos repousam tranqüilamente nos trailers,
estou quase dormente, meio insano,
sob as fortes e constantes rajadas
deste  minuano,
que sacode sem parar as lonas,
as retinidas soltando,
entortando os paus de roda,
num ritual descompassado, fora de moda!
Ah! Que falta me faz seu abraço.
Sinto o vento embalar meu cansaço,
num bailado sensacional,
pela manhã a tua caravana
parte feliz com o Circo Spacial.
Em nada lembra da tempestade,
da agonia, desta noite fria,
pois ela guarda com soberana alegria
na caixa de pandora sua magia,
de todas suas lembranças,
das eternas andanças!

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