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Afro-atitude 2009: Grupo Negra-cor e o artista Benjamim de Oliveira

O Grupo Negra-cor vem promovendo em Pará de Minas/MG e em outras cidades, projetos culturais e educativos nas escolas referentes à Cultura Negra, à História da África e dos Negros no Brasil (Lei 10.639/03). Para celebrar o Dia Nacional da Consciência Negra, criamos o Projeto Afro-atitude, produzido por Rony Morais, escrito por Kátia Honório (que prestou assessoria pedagógica) e cujo trabalho gráfico e filmagem foram feitos por Carlos Alberto. Objetivávamos provocar nos alunos negros uma disposição em assumirem sua negritude e aceitá-la sem conflitos. Pretendíamos que essa experiência trouxesse aos alunos não-negros uma nova concepção sobre diversidade étnica e uma melhor aceitação do Outro que sugerisse um novo relacionamento a partir de um novo olhar, mais respeitoso e menos preconceituoso. Desejávamos suscitar uma nova percepção sobre os negros e fazer com que ambos vissem que estes possuem histórias positivas e contributivas. O projeto deveu-se, também, à existência de uma lacuna de mitos e heróis negros brasileiros e da necessidade em formar, no imaginário desses, imagens positivas de pessoas negras que fizessem parte da história do país e da nossa cultura.

Escolhemos Benjamin de Oliveira, negro, filho de escrava, nascido forro. Aos 12 anos, foge de casa com um circo e constrói sua trajetória. Lança-se no mundo e, apesar de todas as dificuldades sofridas, vence na vida e transforma-se em um artista reconhecidamente talentoso. Considerado o primeiro palhaço negro do Brasil, implanta aqui o circo-teatro. Torna-se um dos mais importantes artistas circenses do país. Por isso achamos que valeria a pena apresentá-lo aos alunos e evidenciar sua biografia. Para tanto, baseamo-nos nos trabalhos de Ermínia Silva e Heloísa Pires Lima. Ermínia Silva discorre sobre a teatralidade circense e o surgimento das pantomimas nos palcos e picadeiros nos séculos XIX e XX. A biografia de Benjamin conduz o fio de sua narrativa. Heloísa Lima, por meio da ficção, prova ser possível resgatar uma história relegada ao esquecimento e trazê-la à cena, como um exemplo de vida, para as novas gerações.

Nosso projeto agregou várias atividades. A Caravana Clown Benjamin teve temas ligados às artes circenses e englobou espetáculos de curta duração: Ei… Sorria!, Super Fantástico, Dengue Pegou Um Pegou Geral! e Na Corda Bamba!. Os atores do Projeto Teatro na Escola participaram dessas peças após assistirem alguns curtas-metragens onde artistas de renome “falavam” com o corpo por meio de mímicas. Na Oficina de Criação Reciclown, palhaçinhos foram feitos com materiais do lixo das casas dos alunos. Estes aprenderam como confeccioná-los de forma alternativa e ecologicamente viável. No Encantando Estórias: Fala Griot! – Fala Benjamin! utilizamos o livro Benjamin, o filho da felicidade, de Heloísa Lima, e esta história foi contada à moda griot, tradição da cultura oral africana, levando os alunos a mergulharem na literatura e a conhecerem o artista. Logo após, houve a dramatização de cenas e atividades corporais com os alunos, para um trabalho extracurricular com o teatro e interdisciplinar com as disciplinas Literatura, Produção de Textos e Artes. A Exposição Benjamin, o Filho da Felicidade mostrará, no próximo ano, os desenhos e os textos produzidos por esses alunos e que fazem menção aos episódios do livro.

O Ensaio Aberto dividiu-se em três eventos. Em Com a Palavra Terezinha Pereira, convidamos a escritora para falar sobre Benjamin. No Em Cena, o Grupo Cênico Tatu Bola apresentou a peça Beija-me para pais, escritores, atores e professores. Na Ponta da Língua, o grupo falou de suas experiências com a criação desta peça. As máscaras africanas de Rony Morais – os Filhos da Diáspora foram expostas no Museu Histórico de Betim, retratando sua busca por sua ancestralidade africana. Na Exposição Pará de Minas – um novo olhar, Rony Morais reverenciou Benjamin com uma máscara de um palhaço em papier-maché e arte gessada.

Com o Artes Cênicas, o Tatu Bola encenou a peça Beija-me em escolas e em instituições paraminenses. Esta peça integrou as comemorações do aniversário da cidade e dos 10 anos do Projeto Teatro na Educação. Igualmente fez parte dos eventos em Betim para o dia 20 de Novembro. Com texto de Terezinha Pereira e Grupo Cênico Tatu Bola, direção e produção de Rony Morais, Beija-me foi premiado em dois festivais. Em julho, no 1º Festival de Cenas Curtas de Teatro e Dança de Pará de Minas conquistou os prêmios de Melhor Texto Original, Melhor Direção e Melhor Montagem. Em novembro, no FETO – Festival Estudantil de Teatro em Belo Horizonte obteve, em nível nacional, os prêmios de Melhor Ator, Melhor Diretor e Melhor Conjunto de Atores e foi indicada como Melhor Texto e Melhor Espetáculo, convertendo-se, assim, no carro-chefe do nosso projeto.

Benjamin de Oliveira é uma referência para nossos alunos. Sua biografia serviu para elevar a sua auto-estima. Eles compreenderam que, a partir de um novo olhar e de uma nova atitude, eles poderiam se respeitarem mutuamente, independentemente da cor da pele e de seus traços fenotípicos; o que, infelizmente ainda constitui um problema de difícil aceitação e solução dentro das escolas. Por isso optamos por Benjamin de Oliveira. Por seu exemplo inspirador. Por ser um homem negro que transformou sua realidade a partir de seus sonhos mais delirantes. Por sua ousadia em contrariar o que parecia destino e ter se lançado no universo das artes. Por ser um lutador que se mostrou fenomenal numa época que, sem dúvida, ser negro jamais seria sinônimo de sucesso. Por todos os preconceitos que possam ter obstruído seu caminho, mas que não o impediu de ser sujeito de sua própria história. Por sua coragem de tomar as rédeas de sua vida. Por ser ousado e sonhador.

Essa tem sido a nossa crença. Essa tem sido a nossa contribuição.

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