Argumento com relação à estética do espetáculo do circo mambembe porque eu mesma já a reneguei _ acreditando que era preciso mudanças radicais, elitisar, tornar a estrutura dos nossos espetáculos mais apolínea; me enganei. A origem mambembe é dionisíaca e indominável; é aquele momento em que pai e filho encaram o público se apresentando, também ali, o discípulo e seu mestre. Na origem é que está a magia dos nossos espetáculos.
Permitir que essa estética se iluda com os recursos disponíveis atualmente ao nível de tecnologia e padrões de “profissionalismo” que nos estão sendo impostos… por essa nova espécie de stabilishment que está se formando para a produção cultural no Brasil… lembrando que, de certa forma, ainda engatinhando e beneficiando mais os que podem agregar-se e reivindicar que as regras se adequem às suas credenciais e seus padrões artísticos ruminados pela academia ou, senão por vivências artísticas – não menores, nem maiores – no entanto, totalmente diferentes e até contrárias ao fazer artístico do circo mambembe.
Permitir que a estética do espetáculo mambembe se sujeite a isso é permitir que ela morra _ ou que se torne um ser humano em estado vegetativo mantido por aparelhos _ ou seja, uma espécie de vida artificial.
As coisas só evoluem a partir do que elas são na sua origem. Não há progresso saudável apenas com o que é recebido de fora. Dessa maneira a casa perde seus alicerces.
Assistir a um espetáculo mambembe é como desfrutar da amora fresca do pé que foi plantado no quintal da sua casa – sem lavar! Nada é mais saboroso.
Isiely Ayres, 28 anos, artista de circo mambembe e atriz.
27/08/2007
A Autora