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Cartilha Bahia de Todos os Circos

No ano de 2010, a Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB), unidade vinculada à Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (SecultBA), lançou a cartilha Bahia de Todos os Circos, cujos principais objetivos são facilitar o relacionamento entre os artistas circenses e os poderes públicos municipais e estimular a boa acolhida do circo nas cidades baianas. A publicação, que teve sua tiragem de 2.500 exemplares esgotada, foi revista e atualizada, e terá uma 2ª edição neste ano de 2012. Antes da conclusão e impressão do material, a FUNCEB convoca a classe circense e demais interessados para consultarem o documento e contribuírem com sugestões para aperfeiçoá-lo. A cartilha, em versão em PDF, está disponível para leitura aqui, onde também se encontra um formulário para inscrição de sugestões, que podem ser enviadas até o dia 26 de agosto.

A cartilha Bahia de Todos os Circos apresenta uma introdução sobre o histórico do circo na Bahia, mapas que ilustram a atividade circense nas diversas regiões baianas, instruções sobre a manutenção da formação escolar para crianças e jovens que itineram com suas famílias, informações sobre as políticas públicas estaduais e federais para esta linguagem artística e orientações de como os municípios, através de seus órgãos gestores, podem apoiar os circos e recebê-los com segurança e eficiência, garantindo o acesso do público e a manutenção qualificada desta arte milenar na Bahia.

O CIRCO NA BAHIA – HISTÓRICO

São raras as publicações sobre o circo na Bahia que nos permitam saber como foi que as companhias mambembes chegaram ou se desenvolveram dentro do estado. É certo que, mesmo sem estradas definidas, no início do século XX algumas companhias ou trupes abriram “picadas” para que o circo passasse pelo estado, adentrando assim o Nordeste do Brasil, visto que a Bahia então funciona como porta de entrada para os circos vindos do Sudeste. Em pesquisas acadêmicas realizadas recentemente no estado, há informações sobre grandes companhias circenses que transitaram nos territórios baianos no início dos anos 1900, gerando outras pequenas companhias e trupes. Mas, para se constituir a história do circo na Bahia, ainda é necessário recorrer a depoimentos e à história oral, na fala de pessoas que, de alguma forma, vivenciaram e testemunharam a existência de circos, companhias, artistas, números, textos e esquetes encenados, ou mesmo que tenham participado de algum grupo. Por isso, os registros ainda são escassos.

O interesse pela história do circo na Bahia parte dos próprios artistas ou pesquisadores das artes cênicas que buscam conhecer o passado e entender de que modo funciona esta atividade dentro do estado na contemporaneidade. Assim, na década de 1970, Nélson de Araújo registrou em pesquisa no Recôncavo Baiano algumas comédias e palhaçadas apresentadas nos circos da época, nas localidades de Amoreiras, Gameleira, Santo Amaro de Catu, Arembepe, Barra do Gil e Mar Grande, como forma de instrumentalizar os alunos em artes cênicas, bem como registrar parte desta atividade.

Em 1980, os integrantes da Trupe Tapete Mágico, Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki, entrevistaram diversos artistas circenses, principalmente em Salvador, Região Metropolitana e Recôncavo, dos quais muitos se integraram à equipe de instrutores da primeira escola de Circo do Norte e Nordeste, Escola Picolino, que passa a ser Associação Picolino de Artes do Circo na década de 1990. Dentre estes instrutores, havia artistas de famílias tradicionais circenses ou artistas que haviam se incorporado nas atividades circenses, tais como Jucineide Silva (contorcionista da Trupe dos Silva e do Circo Iquiloni), Vanilson (Palhaço Pimpão do Circo Real D’Plaza), José Maria (trapezista de vários circos na Bahia), André, conhecido como Pé-de-Ferro (monociclista famoso por se equilibrar e construir bicicletas que se desmontavam) e palhaço Jurubeba. A partir destas entrevistas e outras pesquisas que se seguiram, os artistas itinerantes da Bahia puderam também ser conhecidos: Dona Zeza e seu Circo Mundial, Dona Rosária e seu esposo Palhaço Camarão, Zé Fubica, dentre outros.

A atividade circense no estado é constituída de diversos artistas e famílias, muitas vezes desconhecidos para o grande público soteropolitano, mas com grande reconhecimento entre o público das cidades do interior. O interesse em conhecer mais sobre a atividade circense tem levado pesquisadores, estudiosos e artistas a buscar os circos itinerantes para, a partir daí, formular alguns levantamentos. O pesquisador Reginaldo Carvalho registrou diversos circos que estiveram na cidade de Senhor do Bonfim entre as décadas de 1920 e 1960, pois seu avô, após trabalhar no Circo Meridiva por seis meses, montou um grupo de teatro na cidade, encenando dramas e melodramas.

Outra pesquisadora, Cristina Macedo, que trata da Educação no Circo, registrou e evidenciou a atividade circense de cinco circos: Dallas, Circo Barcelona, Marco Polo, Weverton e Jamaica. Já a pesquisadora Alda Souza traçou uma linha hereditária da família circense que tem início com um fotógrafo lambe-lambe, em 1954, criando a Trupe dos Silva, mais tarde se tornando o Circo Iquiloni. Neste trabalho, também foram apontados outros circos que itineravam na Bahia e Nordeste entre as décadas de 1950 e 1960, como o Azes Pernambucano, Circo do Palhaço Tarugo e Circo do Dil.Levantar fatos e histórias é uma tarefa complexa para que se evidenciem todos os agentes envolvidos na história do circo na Bahia: um processo em construção que surge de forma fragmentada, mas que é imprescindível para se ter noção da direção que a atividade circense tomará.

Na figura do Palhaço, podem ser citados alguns artistas que contribuíram ou contribuem com esta história: Palhaço Economia, Palhaço Cadilac, Palhaço Pindola, Palhaço Camarão, Palhaço Detefon, Palhaço Paradinha, Palhaço Bigorrilho, Palhaço Zé Fubica, Palhaço Fura-Fura, Palhaço Funhanha, Palhaço Pinduca, Palhaço Carobinha e Palhaço CD.Através do Mapeamento e Memória do Circo, que vem sendo realizado pela FUNCEB para o reconhecimento desta realidade, cerca de 50 companhias, artistas, trupes, circos itinerantes e escolas de circo foram levantados no período de 2007 a 2011. Esta pesquisa, porém, não para e deve ser sempre atualizada, uma vez que há uma peculiaridade nos circos que atuam na Bahia: da mesma forma como as famílias circenses rapidamente constituem um circo, também o desfaz. A dinâmica dos circos itinerantes também não permite que estes sejam mapeados somente em um estado, pois muitos atuam em outras localidades do Nordeste. De qualquer modo, este levantamento serve de norteador para diversas ações para a área, além de fazer conhecido o que antes era desconhecido: os artistas mambembes do estado da Bahia.

Texto extraído da Cartilha de Todos os Circos da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB)

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