A prática do tecido circense nas academias de ginástica da cidade de Campinas-SP: o aluno, o professor e o proprietário

Texto escrito por Marco Antonio Coelho Bortoleto e Daniela Bento Soares na Revista Corpoconsciência, Santo André, vol. 15, n. 2, p. 07-23, jul/dez 2011


RESUMO – Esta pesquisa objetiva descrever o perfil dos envolvidos com o ensino-aprendizagem do tecido circense (ou acrobático) nas acadêmicas de ginástica na cidade de Campinas-SP entre os anos de 2009 e 2010. Para isso, analisa, entre outros aspectos, as características dos praticantes  alunos), a formação e o conhecimento desta modalidade circense por parte dos professores e os motivos que levaram os proprietários dos estabelecimentos a oferecerem essa prática. A necessidade de conhecer os sujeitos envolvidos deu-se principalmente devido à incipiência dessa atividade, bem como pela escassa abordagem desse assunto na formação inicial dos profissionais envolvidos e o crescente oferecimento da modalidade nas academias da referida cidade nos últimos anos. A metodologia de coleta de dados baseou-se na aplicação de questionários a 8 alunos, 11 professores e 9 proprietários ou coordenadores de academias, com posterior análise estatística descritiva. Os resultados do estudo indicam que há um aumento no número de interessados pela prática, que por sua vez está motivando outros estabelecimentos a implantarem essa modalidade e, consequentemente, incrementando a oferta de trabalho para profissionais especializados. Apesar de ser uma prática recente nas academias, mostra-se como alternativa positiva na diversificação das atividades oferecidas pelo setor. Finalmente, aponta-se a urgente necessidade de formação (inicial e continuada) por parte das Instituições de Ensino Superior (IES), seja com o oferecimento de componentes curriculares específicos, seja por meio da possibilidade de estágio supervisionado na área.

1 INTRODUÇÃO
No âmbito das artes do circo, o Tecido Circense (TC) é considerado uma modalidade aérea na qual a performance é executada a partir de um longo pano/tecido fixado, na maioria das vezes pela metade, entre quatro e dez metros de altura. É uma modalidade cuja plástica oferece grande impacto visual (poético e estético) mediante a execução de figuras corporais dinâmicas e estáticas e ações como acrobacias em apoio e suspensão, geralmente coreografadas e com acompanhamento musical. (BORTOLETO, CALÇA, 2007a).

Em virtude das características do aparelho, como a verticalidade, mobilidade e flexibilidade do tecido, por exemplo, essa prática requer qualidades físicas específicas de seus praticantes, em especial força, flexibilidade e coordenação. Logo, o risco eminente, característico das modalidades aéreas, exige importante capacidade de concentração e autocontrole dos praticantes. O desrespeito a algum desses aspectos, associado à dificuldade de realizar ajudas mecânicas (como o uso de lonjas) ou do suporte direto do professor, pode colocar o praticante em situação de risco. Apesar disso, consiste numa prática circense relativamente acessível e que tem atraído grande número de praticantes. (PEREIRA, 2006).

Em geral, é uma prática realizada por jovens e adultos, embora relatem Walter e col. (2007), embasados nas teorias de Gallahue (2005), que até mesmo crianças a partir dos 7 anos de idade possuem condições para se iniciarem nessa atividade. Pereira (2006) destaca que, embora essa seja uma atividade própria das apresentações circenses, há um interesse crescente de pessoas interessadas pela prática sem o objetivo artístico-profissional. Tal público tem procurado cursos em academias de ginástica, escolas de dança, ou mesmo em escolas de circo.

Possivelmente esse fenômeno decorra, ao menos em parte, da crescente divulgação das atividades circenses pela mídia, do significativo incremento de projetos sociais, de escolas de circo e performances públicas na última década. A presença das atividades circenses nas academias de ginástica também foi relatada por Oliveira (2008), destacando que tal iniciativa se justifica como atividade complementar e como inovação e atrativo para novos alunos no acirrado mercado do setor. Foi exatamente para isso que Bortoleto (2008, p. 3) chamou a atenção quando afirmou que:

A inegável expansão das práticas circenses na sociedade brasileira vem
atraindo a atenção de artistas e também de outros profissionais que se
dedicam às atividades cujas temáticas coincidem com o Circo em algum de
seus aspectos.

Bortoleto e Machado (2003) afirmam que existem majoritariamente três diferentes objetivos pelos quais os interessados procuram aulas de atividades circenses: o recreativo, o educativo e o profissional. Em todos eles faz-se necessário profundo conhecimento do professor quanto à segurança dos alunos e adequação do conteúdo em relação aos objetivos e expectativas dos mesmos. Assim, entendemos ser fundamental um amplo repertório técnico, metodológico e, se possível, experiência artística, buscando atender às necessidades pedagógicas específicas. Em outras palavras, é preciso uma sólida formação e experiência na modalidade.

Historicamente, o ensino das práticas circenses vem sendo realizado por artistas profissionais (em atividade ou aposentados), muitos oriundos de famílias circenses, detentores dos saberes próprios dessa linguagem artística. (SILVA, 1996). Contudo, dada a ausência de leis reguladoras, bem como a expansão das atividades circenses para as academias de ginástica, escolas formais e outros espaços diversos, profissionais de outras áreas (teatro, dança e também da Educação Física) vêm assumindo tal responsabilidade (DESIDERIO, 2003). O aspecto mais relevante, entretanto, é que, independentemente da formação artística ou acadêmica, a situação de ensino-aprendizagem requer, para além dos conhecimentos técnicos, um entendimento profundo dos processos pedagógicos próprios aos diferentes públicos e objetivos.

Para ler o Artigo na íntegra, faça download do arquivo abaixo

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