Anormais do desejo: os novos não-humanos? Os sinais que vêm da vida cotidiana e da rua

Texto produzido para o Conselho Federal de Psicologia – no prelo

Diante do convite para escrever sobre direitos humanos, saúde e participação, optei por fazer uma reflexão sobre a produção dos anormais em diferentes momentos das nossas configurações sociais, sem querer esgotar o assunto e sem ser completamente abrangente, a priori uma impossibilidade.

Aceitei, para iniciar, um certo convite foucaultiano de pensar sobre os anormais, hoje, quando há um enorme esforço, por parte de setores conservadores, de conduzir a construção de um imaginário social que torne visível os usuários de drogas como zumbis, não humanos. Como vitimizados pela captura-dependência que as substâncias químicas ilícitas lhes provocariam, de tal maneira que eles deixaram de ser sujeitos desejantes para serem meros objetos inertes e irresponsáveis, quanto aos seus próprios atos.

Esse processo atual tem mobilizado muitos recursos por parte de variados setores sociais, como expressão das conquistas que o pensamento conservador e reacionário tem produzido, inclusive com o apoio de uma ampla rede multilinguística de produção comunicativa, que utiliza dos mais variados veículos de comunicação de massa imagéticas, orais, textuais. Além disso, conseguiram se aliar a um certo agrupamento social que advoga para si as formulações tidas como “científicas” e, portanto, produtoras das verdades sobre o problema que eles mesmo nomeiam, como as expressas por certas entidades corporativas do campo da saúde, como: conselhos profissionais, sociedades de especialidades, e mesmo por figuras populares que atravessam todos esses lugares, como os médicos midiáticos, por exemplo.

Minhas perguntas aqui, então, vão na direção de tentar entender por que há tanto investimento para essa produção imaginária, o que podemos aprender com ela se o nosso tema for a produção dos anormais da hora e que tipo de sociedade se constrói ou se aposta com esse processo e os percursos que vêm gerando. Que tipo de vida possibilitamos com isso, quais interditamos e se podemos ambicionar outras.

Seguindo um pouco o eixo sobre os anormais poderíamos pensar o que havia no jogo imaginário quando os “leprosos” eram os ícones dessa representação. Neles, via-se a força da maldição divina perante os de alma impura, os pecadores que não se resignaram, os que não deram conta de eliminar o pecado original. Mais do que afirmar a maldição em si, o que se afirmava era o divino, sua metafísica e força sobre os humanos, inclusive determinando o que seria o humano a ter chances na sua peregrinação para uma outra vida, após a morte, ou os que não teriam por terem perdido essa possibilidade por não serem mais tão humanos, assim. Ser leproso tinha força simbólica para além de qualquer enfermidade específica.

A força dessa construção milenar ainda hoje se faz presente, mas podemos dizer que no começo do século XIX já estava instalado um outro grupo de anormais que deslocava a “lepra” como ícone da anormalidade, que eram os loucos. Não uns loucos quaisquer, como “brinca” Machado de Assis no seu conto O Alienista, mas o que podemos chamar de “loucos muito loucos”, por serem aqueles possuídos de tal desrazão, que desorganizam e intranquilizam aos que se consideram no máximo “pouco louco”. Pinel, no começo dos XIX, terá um papel relevante nessa produção, junto com vários outros profissionais do campo da saúde, e ajudará a marcar a trajetória desse processo por décadas a fio, mesmo que sob visões de verdades distintas das suas.

Esse novo ícone vai ocupar um lugar especial nessas sociedades, mais atuais, que precisavam afirmar que para “ser humano” precisava-se possuir a capacidade de fazer uso da boa razão. De uma razão que não só evoluiria para ser cada vez mais aprimorada, mas que também e por isso humanizaria o mundo e os incivilizados. Nessas sociedades, já não tão prisioneiras da metafísica divina, constitui-se uma nova metafísica a da razão e do agir racional do humano. Todos que pudessem mostrar o contrário precisariam ser catalogados, vigiados e cuidados. Seja lá o que isso possa significar, pois muitas vezes a prisão em estabelecimentos especiais, como os manicômios, eram vistos como a boa prática perante esses novos não-humanos.

Kant aponta de um certo modo que a razão europeia evolui tanto, na noção de boa razão, a ponto de poder civilizar os selvagens do mundo não europeu. Somos fiéis testemunhas disso, até hoje. No mesmo movimento, a medicina faz esse percurso, mas apontando através da psiquiatria a necessidade de tratar dos sem razão e os que resistirem como desrazão deviam ser excluídos e aprisionados, em nome da proteção de si mesmo e dos outros.

Como sempre, a sociedade com suas práticas cria o problema e a medicina os mecanismos de disciplinarizá-los, ao contrário do que advoga, não é a evolução dos seus saberes que produz esses seus objetos. Esses não são frutos de mais conhecimentos científicos sobre o normal e o patológico no humano, mas construção societárias do que são os normais e os anormais sociais.

Nesse movimento, a medicina e seus equivalentes se figura de sua face de política social para garantir uma certa normalidade humana, vigiando, controlando e punindo. O “louco muito louco” passa a ser o anormal do momento, atravessando os séculos XIX e XX como o principal ícone do humano não-humano.

Nas sociedades contemporâneas, em particular depois da guerra dos anos 1940, como diria Deleuze, e de uma outra maneira também Antonio Negri, há certas modificações nos modos de se construir os anormais e de operar estratégias de enquadramento. Não basta mais medidas disciplinares tão desenvolvidas no século XIX, não bastam as soberanas, algo de novo precisa ser construído para gerir o viver na sociedade, além delas.

Na conversa de Deleuze com as ofertas de Foucault para pensar os biopoderes que podem agir na gestão da vida, fica evidente que os mecanismos anteriores como o poder soberano, que tinha o poder sobre a morte e deixava viver, e o da biopolítica no período que agia sobre a dinâmica das populações, que tinha o poder sobre a vida, já não eram suficientes. Seus aliados, como a medicina do corpo de órgãos, já não davam conta do que vinha ocorrendo na sociedade atual, na qual os processos de subjetivação sobre a gestão da vida, ganhava espaços de exercícios mais autônomos pelos indivíduos ou pequenos grupos identitários..

Como em paradoxo, ao mesmo tempo que aumentavam as possibilidades de tornar todos consumidores vorazes, nessa repetição instalava-se diferenças singularizantes, o que sempre foi um risco para sociedades como as capitalistas, que precisa fazer a gestão da vida dos coletivos para sugar suas forças vivas alimentando o capital. Porém, sempre foi um paradoxo dessa mesma sociedade que na medida que necessita da exploração do trabalho, também corre o risco da revolta das multidões de trabalhadores. Por isso, em Marx a marca das ações contraditórias das sociedades capitalistas.

Deleuze aponta o desenho da sociedade de controle como aquele que opera um conjunto de estratégias que procura operar dispositivos de subjetivações a ponto dos indivíduos e coletivos autogerirem a produção de suas vidas, porém sobre certos territórios identitários e não outros. Como o de se vestir de consumidor de bens de mercado para produzir a si mesmo. Os diagramas de força dessa sociedade estariam a todo momento produzindo vidas desejantes sempre na falta, para não pararem maquinicamente de operarem de modo autocentrado, subjetivado como desejo capitalístico. Essas seriam as máquinas da linha de produção dos normais do desejo.

Ser-humano nesse novo mundo é desejar dentro de certos modelos estéticos para o viver. Por exemplo, suportasse qualquer individuação, desde que clônica nos territórios existenciais capitalísticos, como acontece com o nú em público, desde que sob um corpinho malhado.

Essa aposta de constituição da vida individual e coletiva aponta para novos paradoxos a atuar no limite do que seria o não-humano, da hora. A gestão da vida agora com um componente forte de autogestão, pede dispositivos sociais de subjetivações mais sofisticados e virtuais, imateriais. Ao mesmo tempo que se necessita de um autogestor que tenha em si, por exemplo, conhecimento para cuidar de si, produzindo a si mesmo, esse conhecimento como dispositivo capitalístico não poderá desdobrar-se em qualquer tipo de subjetivação.

Como o conhecimento enquanto dispositivo de controle, há vários outros nessa dimensão imaterial que acionam as subjetivações capitalísticas, como apontamos no começo do texto ao indicarmos a presença de múltiplas ações linguísticas na construção de imaginários sociais sobre os modos normais de viver.

Entretanto, nesse campo, não há garantias de controle total, a produção de desviantes é parte do processo. Em paradoxo, estimular os desejantes, ativá-los gera campo de multiplicidades. E como no filme Blade Runner a sociedade que se funda nesse processo, necessita dos seus caçadores de não-humanos resultados de si mesma.

No campo da saúde, forte aliado dos processos da ordem biopolítica, novos biopoderes são requisitados. A própria medicina cede lugar para sua transformação. De exclusivamente dos corpos de órgãos, agora temos uma medicina do corpo sem órgãos. E com ela operamos o risco de deixar de ser normal como a expressão da nova forma de adoecimento.

Vejamos, os sinais que vêm da rua, da tensão dos espaços públicos e privados.

Em nome de muita coisa, simbolicamente fortes, produzimos ali no dia a dia do cotidiano, nas relações com os outros, uma possibilidade de ações mini fascistas bem legitimadas, quando encontramos, por exemplo, um fumante comum. Vários de nós, não fumantes ou ex como eu, se autorizam a produzir atos violentos com olhares, falas, expulsões e criminalizações ao encontar alguém fumando debaixo de marquises, ou mesmo em fumódromos.

Olhamos para eles e pensamos de modo imediato: que falta de controle, que suicidas, que dominados por desejos impuros. Será que são tão desinformados assim que não vêm o risco de morrerem disso. E, por aí, vamos desqualificando-os ao ponto de quase colocá-los no limite de serem tão pouco humanamente lógicos, que por pouco não os nominamos de “os novos loucos”.

Mas agora os novos loucos do desejo e não da desrazão.

É de impressionar como os coletivos se autorizam a tomar essas posturas que chamo de mini fascistas. Nome que trago inspirado por vários pensadores da micropolítica. Guattari é um dos que mais me agrada nas denúncias e antecipações desse tempo que vivemos, hoje, pela força de suas enunciações.

Vejam que interessante o papel que o saber da saúde joga nisso. Pois, diante de certos problemas colocados socialmente, como o prejuízo que as doenças pelo fumo provocam nos sistemas de saúde, operam ações bem hipócritas – as estratégias perante os usuários do fumo são as eleitas como as mais fundamentais e não as que atinjam a produção das indústrias de cigarros ou equivalentes – passam a criminalizar o desejo do usuário e deslocam os dispositivos de subjetivação para esse terreno existencial. Como tal constroem máquinas de repressão do desejo para disciplinar os indivíduos e coletivos dentro de uma ação global, contando com as produções do campo da saúde inclusive como um dos principais caminhos pela medicalização, a produzir imaginariamente a problematização do viver e sua disciplinarização e controle, indicando modos estéticos de se ter “uma vida do bem”, afirmando parâmetros identitários de práticas de saudabilidade para isso.

Essa nova constituição do campo da saúde, agora de posse de uma clínica do corpo sem órgãos – atuando sobre o risco de sermos enfermos por estarmos saudáveis mas praticantes de desvios do desejo e, portanto, produtores de comportamentos inadequados -, vai varrendo na micropolítica da vida cotidiana várias situações que serão elencadas como importantes objetos de suas interveções. Sempre com a marca de se dirigir para o campo da produção subjetiva do usuário, atrás de seus desvios.

Quem hoje não senta em uma mesa de refeição e fica martelando que se comer uma feijoada vai perder dias de vida, e mesmo que isso seja irresistível, se vê acusado de irresponsável ou de suicida até por si mesmo. E, após, esses atos prazerosos se pune procurando na refeição seguinte comer alimentos-remédios mais saudáveis ou representados como tais, apostando que possa recuperar os dias perdidos com os atos incontroláveis da refeição anterior.

Pensa rapidamente, sem que nenhum profissional de saúde precisa agir em perspectivas medicalizantes, na necessidade de fazer exames médicos para saber do grau de comprometimento que se encontra, ou mesmo ir atraś da indicação de certos medicamentos que atuariam no “corpo saudável”, para não deixar de sê-lo e por aí vai. Alguns desses “desviantes” deprimem de maneira autopunitiva por se considerarem fracos em si, por se verem escravos de seus desejos.

Mas, controle que esse é difícil de encontrar, nãoé !!!

E vale pensar o que são oferecidos para esses anormais do desejo do ponto de vista societário, ainda mais quando a sociedade atual construiu uma tal forma de representação sobre eles que a própria adolescência e infância, que são momentos de grandes testagens desse mundo subjetivante em nós, viraram grandes objetos de intervenções dentro desses paradigmas do controle dos desvios.

A sociedade atual constroi a forte imagem que a infância e a adolescência são grandes momentos de desvios e precisam ser atingidas por fortes mecanismos de controle. Vejam a quantidade de processos criminalizadores que hoje se fabrica para essas fases do viver e o quanto a medicina e a saúde como um todo vem se debruçando sobre elas, medicalizando-as sob o invólucro da psiquiatria, de modo especial.

Essa pobreza de oferta de redes de conexões existenciais para quem está experimentando novas formas e estéticas de vida para si, contituindo-se, anda de par e passo com o olhar que vê perigo em qualquer manifestação interessante de atos não controlados. Como por exemplo a ocupação de espaços públicos para praticar relações artísticas ou simplemente para brincar. As praças, agora, sob prescrição medicalizante terão que ter aparelhos para exercícios físicos saudáveis e deverão ser reguladas. Outras manifestações fora desse imaginário devem ser excluídas, por andarem mais com Dionísio do que com Apolo.

Essa pobreza enclausura a busca por novos experimentos que sempre conviveram com a humanidade, como sempre foi o uso das drogas, na busca de novas experimentações para as emoções, afetos e desejos. De modo hipócrita essa mesma sociedade controladora recusa qualquer discussão sobre legalização ou descriminalização nesse campo. Ao contrário, constroi mecanismos para que o uso das drogas seja crime a priori, empurrando os usuários de drogas para um “lugar de não-humano”, nas margens dos espaços societários autorizados.

Estão aí os ruídos vindo das cracolândias. Mas, também da tolerância zero que não permite nem manifestação artística espontânea nos espaços públicos. O mini fascismo se alia, agora, ao fascismo dos aparatos policiais.

Os coletivos formados pelos usuários de drogas, ocupantes de ruas e praças, em qualquer cidade, vêm se tornando um prato cheio para fascistas e para construção de um medo atávico pelo não controlado, levando de roldão qualquer tipo de movimento que se alia a uma aposta biopolítica de outro tipo, autogestionária de uma vida livre e não clonificada, impedindo de tal maneira esses possíveis exercícios de uma forma ampla e criativa.

E, ao contrário, reforçam como prática efetiva de ação para aqueles coletivos, ampliando um agir hipócrita, advogam mecanimos de ação interditores do desejo apoiadas em práticas repressivas e policialescas.

Apontando para a internação compulsória em comunidades terapêutica e não novas conexões existencias e vínculos produtores de novos desejos de viver. A interdição do desejo é o grande eixo, procurando neutralizar as ofertas opostas de se operar sobre a produção de mais desejo e assim mais conexões de vida, única forma que entendo com chance de construir uma agir solidário com aqueles que vivem as consequencias do uso abusivo de certas drogas. Talvez porque esse produza mais singularidades e mais desejos, mais diferenças que enriquecem as sociedades em termos da diversidade do viver e do partilhamento. Fenômenos não suportáveis pelos modos capitalísticos vividos nas sociedades globalizadas como as atuais, como apontam pensadores como Zizek e Negri, que nos presenteiam com provas de montão desse processo insuportável de destruição da vida na organização global das sociedades, atuais.

Vale nos debruçarmos mais detalhadamente como se constroi esse percurso de interditar a produção de mais vida, nesses grupos sociais jogados para mecanismos pobres de viver, inclusive pelos oferecidos pelo campo da saúde, psiquiatrizado de modo brutal hoje em dia?

A primeira construção, como apontamos no início e muito duvidosa, é a que associa o usuário de droga como dependente químico, como se o objeto fosse o elemento capturante e anulador da possibilidade de indicar que esse usuário antes de tudo é desejante, e como tal faz movimento produtivo para o consumo, inclusive abusivo. Isso tem relevância, pois se ele é vítima da substância só a abstinência e a interdição do contato com a droga podem produzir efeitos terapêuticos, como muitos advogam e procuram provar cientificamente. Dentro disso só a internação compulsória teria um bom resultado, pois tornaria imposível aquele contato e desse modo a “vítima” teria a chance de escapar da captura-dependência.

Porém, se isso for só uma das verdades possíveis, as estratégias centradas exclusivamente nessa lógica fracassariam em um número razoável. O que, aliás, as experiências com abstinências não desejadas, mas impostas, mostram com a produção da quantidade importante de grandes fracassos terapêuticos. Estão aí as estatísticas com alcoolistas cujos êxitos terapêuticos pouco beiram os 30%. Ampliem isso para se pensar os grupos de obesos, de diabéticos e de hipertensos ou equivalentes mais leves do ponto de vista do preconceito social, dos anormais do desejo. Os fracassos terapêuticos são o tom desses tipos de ofertas, nos modelo medicalizantes predominantes de hoje.

O interessante é que há investimentos massiços nesses caminhos, ainda mais que o passo aliado dele, o da abstinência ou controle do desejo criminalizado, anda de mão dada com medicalizações medicamentosas, que possam inibir o desejo perverso. Com isso, essas experiências não só contam com apoio de recursos governamentais que adotam o discurso de um possível caos social se não agir, nunca comprovado – vejam que o México de hoje o possível caos vem dos produtores e atravessadores das drogas e não dos consumidores -, mas também contam com recursos de outras fontes, inclusive de indústrias de medicamentos.

Por outro lado, as outras possibilidades de apostas, que afirmam que sem produção de mais desejo não há como agir nas formas de produção de vida desses grupos, não contam com grandes apoios. Inclusive por parte de governos progressistas, como é o brasileiro atual, a maior parte das apostas hoje de novos gastos parece apontar para a legitimação das Comunidades Terapêuticas, verdadeiros aparatos de concretização dos novos caminhos manicomiais de uma sociedade que mudou a figura do anormal, do da desrazão para o do desejo, do manicômio prisão para uma prisão Comunidade.
Lógico, que esse caminho em se consagrando não parará aí no campo da droga considerada ilícita, pois com muita rapidez assistiremos grandes pensadores da saúde, em particular da psiquiatria, da medicina e da saúde pública advogando a internação compulsória dos diabéticos, dos hipertensos e dos obesos, que se forem crianças serão arrancadas de seus pais para serem “bem cuidados” (sic) pelo estado, como se fazia com os “leprosos” no começo do século XX, no Brasil.

Com esse texto, a se continuar nesse caminho, indico que esses novos não-humanos, os do desejo, os desviantes desejantes, iremos pedir em um tempo não muito distante, como única opção cuidadora a internação compulsória indiscriminada. E, o pior de tudo, como sempre em nome deles mesmos. Com essas reflexões tenho a intenção de contribuir com mais ações coletivas de uma outra ordem imaginária, que possa apostar na construção de sociabilidades que não faça divisão entre humanos e humanos não-humanos, mas que sim apostem que a vida de qualquer um vale a pena e é sempre expressão de desejos biopotentes, e que só produziremos mais vida se apostarmos em mais desejos e não em sua interdição.

Essas apostas em mais vida exigem sociedades que devem se tornar também mais solidárias com as diferenças e defendê-las como direito societário de nova forma. Não só o direito social de ter condições materiais de vida e redes de proteção social para isso, mas o direito à diferença, o direito à construção de uma liberdade que se pauta pela produção da liberdade do outro, o direito à uma vida justa, digna e solidária com todas as formas de viver na Terra.

Creio ser esse o sentido das lutas coletivas libertárias no mundo contemporâneo. A luta pela vida na sua diversidade coletiva.


Sugestão de outros textos do próprio autor:

Vídeo sobre “Os anormais do desejo” (2011), no qual a fala inicia nos 7 minutos do vídeo após fala do evento, alojado no seguinte endereço: http://www.4shared.com/video/-P4gP0F8/anormaisdahora.html

Indico a leitura dos livros: A Multidão de Negri e Hardt; Spinoza, filosofia prática de Deleuze e As 3 Ecologias de Felix Guattari

Related posts

Reinventando o Circo: Palhaçaria Pós-Bolsonarismo – Alice Viveiros de Castro – Colunista

Silva

Lei do Circo em Fortaleza

circon

Sangue de palhaço

circon