As pesquisadoras

Introdução por Erminia Silva.
Ao ler o texto de Rodrigo lembrei de uma brincadeira que nós – As pesquisadoras – fizemos há um tempo atrás e que ficou como que uma marca. Tudo começou quando Alice Viveiros de Castro achou uma gravura sob o título “A palestra de Três Donzelas”… donzelas_intIntrodução por Erminia Silva
Ao ler o texto de Rodrigo lembrei de uma brincadeira que nós – As pesquisadoras – fizemos há um tempo atrás e que ficou como que uma marca. Tudo começou quando a Alice achou uma gravura sob o título “A palestra de Três Donzelas” em uns guardados do seu pai. Parece, segundo ela, que se tratava de um projeto que o Ciro de Tracunhaem tinha feito para usar como rótulos de cachaça.

Seja qual for a história da gravura, Alice achou e mandou para mim e Verônica Tamaoki, suas parceiras de pesquisa. Tivemos uma “identidade” com aquelas donzelas, pois sempre fazíamos palestras e pesquisas juntas. Só entrávamos em discussão quando era para definir quem era quem entre elas.

Lá por 2005, enquanto brincávamos de donzelas e com a ideia de fundar o “Comitê pró-Criação da Associação Nacional dos Pesquisadores de Circo do Brasil”, a Alice lançou seu livro em São Paulo, em um evento organizado pelo CEFAC. Naquele momento, por razões que não vou esclarecer aqui, nos autodenominados de “as pistoleiras da pesquisa”, mas depois voltamos à ideia das donzelas quando lançamos os nossos livros no Anjos do Picadeiro 6 – Encontro Internacional de Palhaços, em Salvador. Tudo isso foi tão gostosamente aceito, que foi feita uma reprodução ampliada da gravura e colada na frente da mesa onde estávamos palestrando. Foi assim também no Festival de Goiânia, em 2008.

O texto que Rodrigo nos encaminhou como colunista do Circonteúdo, é um relato sobre seus primeiros encontros com as mulheres pesquisadoras brasileiras, desde o início de sua carreira artística circense. Primeiro com Verônica Tamaoki, depois com Alice Viveiros de Castro e, por último, comigo Erminia Silva. Sua narrativa não nos descreve apenas, mas faz análises das nossas produções e militância política, para revelar o pesquisador e estudioso que há nele.


As pesquisadoras

por Rodrigo Matheus

Verônica Tamaoki foi a primeira a publicar, e já é veterana em publicações. Fez o Fantasma do Circo e o belíssimo Circo Nerino, em parceria com o Roger Avanzi. A Verônica eu conheci em Salvador, quando ela ainda era diretora e professora da Escola Picolino, fundada por ela e pelo Anselmo Serrat, que hoje é o responsável pela mesma. Em 1987 e 1988, eu passei férias em Salvador dando aulas na escola e orgulhosamente hospedado na casa deles, na época em Itapuã. Uma vez viajei com o Kikão, que depois foi um dos oito fundadores dos Acrobáticos Fratelli, e no ano seguinte com o Alê Roit, que depois foi ser co-fundador dos Parlapatões (e até hoje fazemos espetáculos juntos). Daquelas viagens, ficaram muitos ensinamentos e muitas memórias maravilhosas.

Depois disso, conheci a Alice Viveiros de Castro. Um dia, por volta de 1996 ou 1997, recebo um telefonema de uma mulher do Rio, que está colaborando com uma pesquisa, para a publicação de um livro sobre o circo brasileiro, feito pela Funarte, e que is sair breve, e não tínhamos muito tempo, e etc. etc. etc. Muitas informações em muito pouco tempo. Essa é a Alice. Pouco tempo depois, fui ao Rio (não por que) com o Guto do Fratelli, e nos encontramos com a Alice. E conheci pessoalmente o furacão, cheia de energia, de informações, de ideologia e de bom senso. Uma batalhadora com a função fundamental de nos orientar, nos ajudar a pensar, dee brigar pelo circo nas esferas mais altas do poder público e, de quebra, escrever um dos livros mais deliciosos que já li, o “Elogio da Bobagem”, livro profundo, apaixonado, divertido, emocionante.

E, por fim, conheci a Ermínia. Numa mesa de discussão no Festival de Circo de Belo Horizonte (se não me engano), aquela pessoa que não é tão expansiva quanto as duas outras, mas se revela fascinante por sua sabedoria e paixão pelos temas de nosso interesse – circo e formação. Ermínia começou a falar, e eu comecei a ver o monte de bobagens que eu falava até então. Ela me mostrou que o circo sempre se transformou, que não era mérito da minha geração transformar o circo, mas apenas uma presunção jovem de quem ainda não conhecia muita coisa (e ainda não conhece…). Ermínia virou nossa parceira no CEFAC, nos orientando e dando aulas que marcaram época. Com ela, discuto regularmente questões referentes à formação na área (escolas de circo no Brasil e no mundo) e referentes ao circo em geral (política, bibliografia, ética, estética). E, de quebra, ela me passou as suas duas teses que, depois virariam livro: O “Circo-Teatro: Benjamim de Oliveira e a teatralidade Circense no Brasil” (já editado, esgotado e disponibilizado neste site) e “O Circo: Sua Arte e Seus Saberes”, em vias de ser lançado. Li o primeiro (sua tese de doutorado) e fiquei emocionado. Pelo porte da pesquisa, pela profundidade, pelo que o livro significa (a importância do circo aferida e confirmada pela autora, os desdobramentos que o livro aponta, as implicações sobre o circo que é feito nos dias de hoje), pelo trabalho que ela teve! E pela paixão que transparece em cada linha das mais de quinhentas páginas. Aprendi muito lendo este livro e não resisti, liguei para ela da rua, onde estava no momento em que terminei, para parabenizá-la e agradecê-la. Ermínia, generosa como só ela, pareceu ficar emocionada. Enfim, estas são as três rumbeiras do circo brasileiro, que ajudam a tornar o nosso trabalho mais fácil, mais bem visto e mais cheio de sentido.

Com isso, agradeço o convite para fazer parte deste grupo de colunistas. Que honra! E tentamos, aqui e nas ruas, fortalecer o ofício do circense.

Aos que lerem estas linhas, recomendo, para entender a importância deste site (e do seu precursor, o Pindorama Circus, parte deste agora), que leiam os três livros citados: Circo Nerino, Elogio da Bobagem e Circo-Teatro. Com estes, o circo de cada um de nós não será o mesmo.

Longa vida ao Circonteúdo!

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