Benjamim de Oliveira: cantor, instrumentista, dramaturgo, músico, produtor, ator, sem nunca ter deixado de ser um palhaço-artista. Benjamim, quarto filho dos então escravos Malaquias Chaves e Leandra de Jesus, nasceu na Fazenda dos Guardas, em Pará de Minas, em 11 de junho de 1870 e faleceu no Rio de Janeiro, no dia 3 de maio de 1954.
Creio que, até quatro anos após sua morte, Benjamim de Oliveira tenha sido apenas uma lenda em sua terra natal. Até que, em 10 de fevereiro de 1958, teve seu nome escolhido para denominar uma rua no bairro Nossa Senhora das Graças, conforme Projeto de Lei 612, apresentado à Câmara por Walter Martins Ferreira, naquele tempo vereador e depois prefeito desta cidade por dois mandatos. O texto justificativo que acompanha o referido projeto relata um pequeno currículo de nosso artista. (Tão pouco se sabia de Benjamim!) No entanto, compensa transcrever aqui um trecho do comentário que foi escrito à mão, no final do texto, pelos membros da C.F. J. e Legislação que votaram pela aprovação, com aplauso, da proposta do vereador Walter Martins Ferreira: “a brilhante justificativa que acompanha o referido Projeto de Lei nos convence realmente da sua necessidade. Homens de muito menor mérito, ou talvez nenhum, têm o seu nome perpetuado em ruas desta cidade.” (!!!)
Por conseguinte, foram feitas as considerações de praxe entre os vereadores que compunham a Câmara Municipal no ano de 1958 e seus representantes, Dr. Morel Mendonça Meireles _ presidente, Dr. Fernando Queiroz Xavier _ Vice-Presidente e Dr. Paulo Mendonça Ferreira _ Secretário, apresentaram na sala das sessões da Câmara Municipal de Pará de Minas, em 5 de março de 1958, o Projeto de Lei no. 612, afirmando a validade da prática do referido projeto.
Ao chegar ao prefeito, Dr. Osvaldo Ribeiro Lage, hoje Monsenhor Osvaldo, um dos grandes prefeitos que administrou esta cidade, o Projeto de Lei 612 foi vetado pelo mesmo, com a justificativa de que a localização da rua não estava bem especificada no texto. Com relação ao homenageado, Dr. Osvaldo Lage escreveu: “nosso veto não tem, entretanto, o significado de uma oposição ao mérito do projeto. Reconhecemos a justiça da homenagem que a Câmara pretende prestar ao excepcional palhaço Benjamim de Oliveira, que no exercício de sua arte honrou a sua terra natal e projetou-a no cenário nacional. Subscrevemos, com satisfação, as razões aduzidas pelo autor do projeto e as fazemos integrantes desta mensagem, reservando-lhe, expressamente, todo o mérito da homenagem que o município prestará ao seu ilustre filho. […] Esta mensagem de veto serve de justificativa ao novo projeto que somente pretende determinar com precisão e sem motivos para dúvidas futuras, o logradouro público que se vai denominar. […]”
Em 7 de abril daquele ano, a Comissão Especial de Veto da Câmara, tendo como relator o vereador Dr. Paulo Mendonça Ferreira, dá seu parecer em favor da manutenção do veto, “de vez que o Projeto 612, de maneira alguma precisa a localização da rua” e solicita que entre imediatamente em pauta o Projeto de Lei 620, que dispõe sobre denominação de rua. Em 11 de abril, o presidente da Câmara, Dr. Morel Mendonça Meireles, comunica que o Projeto de Lei no. 620 já se encontrava em pauta para sua primeira discussão e votação. Naquela mesma data, o vereador Walter Martins Ferreira requer que se acrescente ao artigo 1º. do Projeto de Lei no. 620 a emenda: “onde se lê Rua Benjamim de Oliveira passará a ler-se Rua Artista Benjamim de Oliveira.” A Comissão de Finanças, Justiça e Legislação julgou tal emenda como de grande utilidade, “pois deixando-se simplesmente o nome Benjamim de Oliveira poderá haver, em dias futuros, dúvida sobre quem recai a homenagem, e, usando-se a expressão Artista Benjamim de Oliveira não haverá dúvida alguma.”
Na sala de sessões da Câmara Municipal, em 14 de abril, sai a redação final do Projeto de Lei 620. Finalmente, no dia 24 de abril de 1958, o prefeito Dr. Osvaldo Lage e seu secretário Nelson Martins Aguiar assinam a Lei no. 440. Torna-se importante destacar o primeiro e o segundo artigos da lei:
Art. 1º. – Fica denominada “Rua Benjamim de Oliveira” a via pública aberta entre as quadras 81 e 209 e 304 e 4-9 da planta cadastral, e que, partindo da Rua Cel. Domingos Justino, vai terminar na Rua Antônio Praxedes.
Art. 2º. – A Prefeitura providenciará o emplacamento da rua e fará registrar seu nome na planta cadastral da cidade.
Dessa forma, cumpridas as formalidades, uma rua que parte da Cel. Domingos Justino e termina rua Antônio Praxedes, no bairro Nossa Senhora das Graças, em Pará de Minas, foi denominada “Artista Benjamim de Oliveira”.
Alguma dúvida? Sim. Algumas. Por que será que as pessoas da cidade, crianças das escolas não foram devidamente informadas a respeito da importância do ser humano e artista Benjamim de Oliveira? Por que será que, para a grande maioria dos moradores de Pará de Minas, “Artista Benjamim de Oliveira” continua sendo apenas o nome escrito em uma placa de rua, lá do bairro Nossa Senhora das Graças?
Uma certeza. Benjamim eleva o nome de Pará de Minas ao cenário nacional e até a algumas partes do mundo onde se estuda arte circense e teatral. Em qualquer biografia, artigo, crônica, estudos e livros que falam de Benjamim é citada sua terra natal. Em 11 de junho deste ano, comemoram-se 140 anos de nascimento de Benjamim de Oliveira, que desde menino se mostrou um artista revolucionário da arte do circo e outras. Por esta razão, estima-se que é chegado o momento de as pessoas da cidade vasculharem sua biografia; hora de os mestres procurarem levar a história de sua vida e obra para as escolas. A juventude de hoje está carente de modelos de seres humanos que foram bem sucedidos na vida procurando levar a alegria aos outros, sem se preocuparem em acumular riquezas pessoais. Concordam?
Para começar, alguns livros poderiam ser lidos: Circo-teatro – Benjamim de Oliveira e a teatralidade circense no Brasil, editado em 2007, de Erminia Silva, paulista que vive no Rio, vinda de família de circenses que, quando pesquisava sobre a vida de seus familiares no circo ao fazer o curso de História na UNICAMP, descobriu e encantou-se com Benjamim. Apaixonada pelo tema deu continuidade a sua vocação de estudiosa e pesquisadora sobre o processo histórico do circo e circenses no Brasil. Seu trabalho minucioso resultou em uma dissertação de mestrado, em tese de doutorado e na edição do livro citado, que revela fatos ligados à vida da figura de Benjamim de Oliveira, no período de 1870 a 1910. Erminia esteve em Pará de Minas pesquisando documentos sobre Benjamim e registrou neste livro seu agradecimento ao conjunto de pessoas que a acolheram na cidade onde Benjamim de Oliveira nasceu, particularmente aos trabalhadores do Museu da Cidade.
Outro título indicado é Benjamim, o filho da felicidade, de 2007, de Heloisa Pires Lima, gaúcha de Porto Alegre. Trata-se de um livro leve, alegre, poético, que narra a “espetacular trajetória” do palhaço negro, que a autora revela ter descoberto recentemente e por ele haver se encantado. Por outro lado, diz-se decepcionada com amigos, educadores das tantas consultorias educacionais que nada sabiam de Benjamim – fato que ela chama de “amnésia nacional”.
Então, cidadãos de Pará de Minas, arremedando Heloísa, chega de “amnésia municipal”! Vamos procurar conhecer nosso grande artista, o negro fugido com o circo, que nas concepções que temos de “bem ou mal nascido”, tinha tudo para dar errado e deu muito certo!
Deixo aqui meus agradecimentos ao grande ator, diretor e pesquisador Rony Morais, leitor de Erminia Silva e Heloisa Pires, que gentilmente cedeu-me os dados por ele obtidos, referentes aos trâmites do processo da denominação da rua Artista Benjamim de Oliveira.
Rony, o documento de justificativa apresentado à Câmara Municipal em 1958, pelo então vereador Walter Martins Ferreira é importante, pois nos informa de fatos relacionados a Benjamim de Oliveira, conhecidos naquela época. Porém, há dados que devem pesquisados mais profundamente. Como você já tem conhecimento, alguns já foram buscados. Serão comentados neste espaço, em breve. Muito obrigada! Continue seu trabalho de mostrar aos jovens que viver a arte vale a pena!