Entendendo o processo de humanização na saúde da criança: uma relação entre a figura do palhaço, a criança e os profissionais de enfermagem

Marcos da Cruz Alves Siqueira

Maria Antonia Ramos Costa: Mestre Docente do Curso de Enfermagem da FAFIPA

*Este artigo foi apresentado no I – Congresso Regional de Humanização do SUS contendo apenas algumas partes do artigo.

O artigo trata-se de uma reflexão sobre a relação interpessoal da figura do palhaço, a criança e os profissionais de enfermagem na ala pediátrica. Sendo o enfermeiro um agente ativo e presente durante todo o tratamento da criança hospitalizada, desempenhando muitas vezes o papel de pais sociais nos cuidados patológicos e psíquicos. O trabalho foi realizado em cima de uma revisão bibliográfica, sendo utilizados no processo da pesquisa livros, artigos e sites da internet e tendo como ponto de partida relatos de integrantes da Companhia Amigos do Riso – Núcleo Formação de Doutores Palhaços que atuaram no período de 2007 a 2009 na ala pediátrica do Hospital Santa Casa de Paranavaí sendo um dos precursores na cidade. Analisando a função social da arte do clown (Palhaço) no processo de humanização na saúde da criança criando um relacionamento entre os profissionais da área da saúde através do riso e brincadeiras que vão contribuindo para um vinculo de confiança facilitando no tratamento e na qualidade do ambiente para o paciente no setor pediátrico. A figura lúdica do clown vem sendo um agente social participativo na construção deste processo, utilizando as personagens dos médicos e enfermeiros em seus trabalhos desenvolvendo os médicos palhaços e enfermeiros da alegria, utilizando o humor dentro do setor pediátrico com responsabilidade pode contribuir no processo de humanização na saúde da criança melhorando o relacionamento através da alegria entre profissionais, pacientes e famílias.

O CONCEITO DE HUMANIZAÇÃO E CLOWN: Doutores Palhaços

Humanização é ferramenta de gestão, pois valoriza a qualidade no atendimento, preserva as dimensões biológicas, psicológicas e sociais dos usuários e enfatiza a comunicação e a integração entre profissionais.  (Linara Rizzo Batistella)

O conceito de humanização vem ganhando espaço nas discussões coletivas formando um conceito ideológico notável para os melhoramentos dos espaços hospitalares e a integração da comunidade neste processo de desempenho ético e humano baseado na seriedade dos profissionais da saúde, temos visto idéias surgirem dentro dos hospitais como uma das formas humanizadoras como: a arte do palhaço levado no ano de 2007 a 2009 pela Companhia Amigos do Riso – Núcleo Formação Doutores Palhaços para crianças do setor pediátrico no Hospital Santa Casa de Paranavaí, integrando a comunidade no sistema de saúde. Também não podemos nos prender no conceito de humanização sendo apenas o melhoramento estético do espaço, o conceito de humanização vem ganhando formas ideológicas na sociedade contemporânea do século XX onde a tecnologia vem avançando em nosso cotidiano e assim vão se perdendo certos conceitos de solidariedade, diálogo pessoal e relação que podemos resumir na ética de humanização; “É bem provável que esse termo tenha sido forjado há umas duas décadas, quando os acordes da luta anti-manicomial , na área da saúde mental, e do movimento feminista pela humanização do parto e nascimento, na área da saúde da mulher, começaram a ganhar volume e produzir ruídos suficientes para registrar marca histórica.” (RIOS, 2009, p.10)

A humanização vem para desempenhar seu papel de proporcionar aos seus pacientes uma boa qualidade no trabalho. O enfoque desta pesquisa é mostrar ao leitor como a arte clownesca contribui no processo de humanização tendo como ponto de partida a Companhia Amigos do Riso de Paranavaí dando a relação entre Comunidade, agentes de saúde e paciente.

Clown é uma palavra inglesa, cuja origem remota do século XVI, derivada de cloyne, cloine, clowne. Sua matriz etimológica reporta a colonus e clod, cujo sentido aproximado seria homem rústico do campo. (BOLOGNESI, 2003, p. 62)

O Clown (Palhaço) não poderia ser uma das personagens que se adaptaria melhor ao um dos fatores do processo de humanização, pois a personagem palhaço tem a função muitas vezes o fazer rir através de suas brincadeiras lúdicas e humorísticas, proporcionando a quem assisti momentos de alegria e entretenimento ao espectador que foge aos pouco da realidade que o cerca e levando-o a caminhar para um universo de fantasia. O palhaço adere para si a figura do médico, enfermeiro e o transforma num “doutor palhaço” que através dos seus jogos cênicos fazem rir, construindo assim um elo de confiança entre o agente principal o enfermeiro e a criança, criando um laço afetivo e quebrando certas idéias colocados pelos próprios familiares de que o enfermeiro dá injeção em crianças bagunceiras, malcriadas e através do humor propicia conforto não apenas para o paciente mas para os profissionais da saúde.

A INTEGRAÇÃO ENTRE COMUNIDADE, HOSPITAL E OS PROFISSINAIS DA ÁREA DA SAÚDE

Baseando em alguns relatos da Companhia Amigos do riso que tinha como intuito estudar a arte do clown proporcionando a comunidade conhecimento deste saberes através de oficinas proporcionadas na Casa da Cultura Carlos Drummond de Andrade onde qualquer pessoa da comunidade interessada na arte de ser um doutor palhaço poderia desenvolver uma personagem palhaço e depois de aprender vários truques e mágicas poderiam ir à ala pediátrica desenvolver o humor com seriedade e respeito. Este trabalho foi um fio condutor proporcionando ao ambiente hospitalar mudanças tantos sociais, psicológicas e de integração, pois através dele o coletivo tinha acesso de estar cooperando para o melhoramento do hospital criando assim um relacionamento entre comunidade e hospital, segundo Daniele Almeida Vieira uma das integrantes da troupe e uma “Doutora Palhaça” reforça este conceito num depoimento:

Os doutores palhaços ou nós doutores palhaços, buscávamos alegrar o ambiente, através de trabalhos de improvisação: como peças de teatro, malabares, pequenas acrobacias e brinquedos. Procurando fazer com que houvesse uma melhor interação dos indivíduos dentro do quarto, atingindo assim não só os pacientes, mas também seus acompanhantes, que geralmente acabam ficando muito tristes, vendo seus filhos naquela situação o que muitas vezes pode ser transmitido para as crianças. O importante deste trabalho era tirar o foco da doença e voltar ao ser humano.”

Criando uma relação através do humor com o paciente, cria-se automaticamente uma relação de confiança entre os familiares que muitas vezes acabam acompanhando seus filhos na pediatria, assim os doutores palhaços acabam proporcionando ao ambiente hospitalar uma cumplicidade de solidariedade e harmonia alegrando as crianças através desta arte milenar, os grupos que freqüentam o setor pediátrico do hospital tem que agir de certa forma obedecendo limites e respeito ao paciente para que não ajam frustrações tanto do paciente como do profissional que atua para que ambos possam contribuir para o beneficio do paciente.

Também não podemos esquecer um dos atores principais deste palco social: o enfermeiro. Que também esta com o paciente na maior parte do seu tratamento ouvindo suas dores, depoimentos e angustias, o enfermeiro como profissional que cuida do paciente também merece ser cuidado e o processo de humanização vem proporcionar isso aos profissionais, porém que a humanização, “inicialmente, eram ações que tornavam o ambiente hospitalar mais afável: atividades lúdicas, lazer entretenimento ou arte, melhorias na aparência física dos serviços” (RIOS, 2009, p. 9).

Com esta ideia devemos ressaltar que a humanização não se resume apenas na melhoria do ambiente, mas vem mostrar que o profissional sendo ele o enfermeiro também deve agir com ética, respeito e solidariedade ao ajudar, com o grupo de “Doutores Palhaços” dentro do hospital além de alegrar os pacientes trás aos agentes de saúde uma descontração e harmonia do ambiente proporcionando por minutos sorrisos e alegrias quebrado um pouco a rotina, assim, com projetos que interligam a comunidade dentro da área da saúde de sua comunidade como este projeto desenvolvido por pequenos atores/aprendiz pode criar um vinculo de ligação entre a comunidade, hospital e paciente, criando um ciclo de cooperação onde que possam também estar cientes dos problemas buscando soluções e melhorias tanto para os profissionais quanto para a própria comunidade que utiliza deste órgão público.

Podemos concluir que ao se pensar em humanização envolvemos várias questões que permeia o cotidiano sendo ela: ambiente, ética, entretenimento, arte, melhorias, solidariedade. Com projetos desenvolvidos dentro do setor pediátrico podemos interligar a comunidade aos problemas que vem acontecendo dentro do sistema de saúde e colocando a par as situações para que todos juntos possam buscar soluções e melhorias tanto para o ambiente como para os profissionais que atuam. A humanização não é apenas o ato de se tornar humano nas atividades desenvolvidas, mas trabalhar em prol de uma organização social da saúde onde que todos possam ser atendidos com respeito e solidariedade, seja ele na recepção aos leitos, para que toda a população possa ter um atendimento digno e de boa qualidade dentro e fora dos quartos e que o enfermeiro agente principal de contato com os hospitalizados possa além de ajudar em suas dores e sofrimentos através dos seus saberes, ser um companheiro de boas condutas agindo com ética e respeito. Com o bom funcionamento do órgão da saúde a comunidade pode cooperar para um bom desempenho dessas iniciativas proporcionando parcerias em projetos sociais criando um diálogo próprio e contribuindo para problemas e cuidando de quem nos cuida: o Enfermeiro.

Referências:

BOLOGNESI, Mário Fernando. Palhaços. São Paulo: Editora UNESP, 2003.

RIOS, Izabel Cristina. Caminhos da Humanização da Saúde: reflexão e prática. São Paulo: Editora Áurea, 2009.

VIEIRA, Daniele Almeida. Companhia Amigos do Riso. Paranavaí, 12 set. 2010. Entrevista a Marcos da Cruz Alves Siqueira.

BASTITELLA, Linara Rizzo. Prefácio: Caminhos da Humanização da Saúde: reflexão e prática. São Paulo: Editora Áurea, 2009.

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