Era uma vez um elefante que se equilibrava por um fio…

O texto abaixo, foi escrito por Paulo Ormindo Azevedo, Conselheiro do Conselho Nacional de Política Cultural, arquiteto, Professor Doutor da Universidade Federal da Bahia, especialista em Patrimônio Imaterial. No dia 17 de novembro foi lido diante dos Ministros da Cultura, Juca Ferreira e do Meio Ambiente, Carlos Minc.

O homem tem utilizado desde as épocas imemoriais para lhe ajudar no trabalho, no transporte, na caça, na guarda e como fiel companheiro. Mas também como esporte, laser e magia. Desenvolveu com ele relações que vão desde o afeto e o carinho até a dependência e a dominação. E os animais entendem esses sentimentos e retribuem no mesmo tom. A domesticação é, com toda educação, um processo de aculturação.

Os animais, inclusive os mais balofos paquidermes, fazem parte de nossa cultura imaterial. Não é por outra razão que eles são personagens importantes da literatura infantil, do cinema de animação, dos gibis, do bumba meu boi, do jogo do bicho e do circo. Quem não se lembra do espanto ao ver pela primeira vez um surrealista camelo desfilando numa cidade do interior em meio a ruidosos palhaços e um urso pedalando uma bicicleta de madeira do companheiro Leonardo ou um elefantinho plantando bananeira sob lona de um circo mambembe.

Pois neste país de milhares de crianças abandonadas e presídios transbordando literalmente pelo ladrão, querem tirar os bichos do circo, sob o pretexto de que são maltratados. Os camelos e leões são um dos pontos altos dos espetáculos circenses e seus proprietários não querem perder estas galinhas de ovos dourados, que custam fortunas, o que não exclui que em muitos casos esses animais sejam enjaulados e transportados de forma inadequada.

Por que essas caridosas criaturas não fazem campanha proibindo o abate de milhões de aves, bois, porcos, peixes diariamente para serem devorados nas churrascarias e restaurantes de todo o mundo? Por que não propõem a exclusão da Espanha da União Européia por permitir as touradas, ou que se proíba toda pesquisa científica com cobaias e humanos chipanzés?

Se existem maus tratos nos circos, se a carne não é de primeira, eles devem ser abolidos, mas não os animais. Precisamos, sim, criar ao lado do Estatuto da Criança e do Adolescente o Estatuto dos Animais, como fizeram os europeus e norte americanos, para regular o tratamento, não só dos bichos de circo e safári, como os de tração, de guarda e cobaias. E que se penalize adequadamente os traficantes de animais silvestres, os promotores de farras do boi e rinhas de canários, galos e cachorros.

Mas não contribuam para que o circo se acabe em nosso país, exatamente quando ele renasce em todo o sistema Soleil. Com ele morreriam o suspense, as quimeras, a ilusão, a magia, humor, e a fantasia. Caro Ministro, vós que sois o próprio MinC, não permitas que esta corda se parta e toda magia seja globalmente desfeita.

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