Esse Monte de Mulher Palhaça – Festival Internacional de Comicidade Feminina (Rio de Janeiro – RJ)

Esse Monte de Mulher Palhaça é um encontro que realizamos bienalmente desde 2005. O objetivo é o protagonismo da mulher palhaça e da comicidade  feminina.

É um espaço para fortalecer e impulsionar essa profissão, reunir mulheres palhaças e cômicas para apresentarem seus espetáculos, fazer oficinas e discutir temas.

O nariz vermelho foi uma referência exclusivamente masculina durante um longo tempo. Precisamos de um período considerável, para descentralizar essa visão e assim criar novas referências, incluindo o feminino através de novas gerações, para que a mulher possa se consolidar na profissão de palhaça cada vez mais.

O festival, não é como muitos pensam e dizem equivocadamente o “clube da Luluzinha”. Esse pensamento equivocado, vem geralmente de pessoas que estão fora desse processo de busca por uma identidade e de uma igualdade na profissão. Para essas pessoas, um festival onde homens não se apresentam, pode ser entendido como preconceito, como exclusão aos homens. Mas no nosso ponto de vista, é uma forma de colocar mais uma mulher trabalhando.

Quando uma mulher tem como dupla um homem e este não pode se apresentar, essa palhaça não desiste, ela busca uma dupla mulher para fazer com ela. Daí é a nossa missão acontecendo, uma vitória. Já que são duas mulheres com oportunidades de trabalho. E essa palhaça que faz dupla com um homem vai continuar trabalhando com ele, se apresentando com ele em outros festivais. E essa mulher que temporariamente foi dupla desta palhaça, se sentiu estimulada para dar continuidade ao seu trabalho.

Um discurso muito usado para tentar justificar essa desigualdade, é dizer que temos mais homens palhaços que mulheres. Hoje em dia temos muitas mulheres palhaças e se os espaços nos festivais continuarem em desigualdade, realmente teremos sempre menos mulheres. Aí começa o que chamamos de “adequação de personalidade”. Para que possam participar dos festivais, elas começam a se “adequar” a um estilo que não é o delas.

Precisamos ter nosso espaço diferenciado, ter um modelo próprio de comicidade cada vez mais em consonância com a realidade da mulher e suas diferenciações.

Esse Monte de Mulher Palhaça é um festival numa estrutura não competitiva, igualitária (dos cachês às oportunidades) para criar, experimentar, trocar, fortalecer a todas as “irmãs de nariz” que estão pelo mundo desenvolvendo seu trabalho com persistência e dignidade, tão necessário quanto gratificante.

Com um modelo que vai na contramão do que existe nos processos de seleção de festivais (seleção através de DVD´s, exigências estéticas, etc.) os critérios para a escolha da programação que temos são:
– Não assistir aos DVDS que nos mandam (pois não nos cabe julgar o que é bom ou ruim)
– Não repetir as artistas que já vieram em programações anteriores
– Escolher uma de cada estado do Brasil, ou de cada país.
– Não ter participação de homens artistas em cena.

Alguns espetáculos e números são desconhecidos nossos, do meio circense/teatral e do público. Oferecemos às nossas alunas espaço para estrearem seus espetáculos ou números. É um festival de incentivo, oportunidade, espaço, concretização, auto-estima e fortalecimento para mulheres. As novas palhaças que tem surgido precisam de espaço e oportunidade para estrear seus espetáculos e números para darem continuidade à profissão.

Assim como na sociedade que vislumbramos, precisamos e fazemos por onde criar um mundo mais igualitário, justo e feliz, também na comicidade há urgência dessa realização. Com certeza mais adiante, quiçá muito em breve, poderemos convidar palhaços de todas as partes do mundo, para estar conosco em “pé” e “nariz” de igualdade nessa nova estrutura de trabalho.

A mulher palhaça em destaque, valorizada, ainda é coisa que culturalmente não se tem como um bom e óbvio lugar a se ocupar. Poucas são as que se destacam em um modelo feminino de sucesso, sem manter os moldes masculinos de atuação.

Mulheres geram vida, podem criar novos modelos, novas lógicas de vida, de humor, integrar subjetividade e objetividade e assim contribuir para novas mudanças e avanços para uma sociedade.

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