Até hoje percebo em diversos grupos artísticos, e aí incluo também o circo, um arrepio na espinha quando falamos da necessidade da adoção de práticas de gestão em toda e qualquer atividade cultural. A administração e gestão são ferramentas estratégicas e fundamentais no processo de formação e consolidação de um grupo artístico.
Não vejo outra forma eficaz para garantir a sustentabilidade de um grupo que não seja conduzida por regras da gestão, que nada mais são do que um conjunto de ações que devem ser realizadas de forma eficaz, buscando utilizar recursos a fim de atingir objetivos pré-determinados. Fazem parte da gestão o planejamento, a tomada de decisão, a otimização de recursos, a utilização da informação, a avaliação de resultados e o atendimento das demandas internas do grupo.
Não se trata aqui de reproduzir modelos de gestão empresarial, mas criar conteúdos e estabelecer práticas e vivências que tenham sintonia com as especificidades e dinâmicas da atividade cultural. Tenho visto muitos grupos, artistas, companhias, coletivos, associações e cooperativas culturais fecharem as portas porque a regra geral é o improviso, as informações são centralizadas em uma única pessoa, não há sistematização do trabalho, mas uma confiança excessiva na “memória” e uma total falta de consciência da necessidade do pensamento em médio e longo prazo.
Embora o setor venha gradativamente se aperfeiçoando, pouca importância tem sido atribuída ao desenvolvimento de competências necessárias para gerir um empreendimento. Nesse contexto, as Leis de Incentivo à Cultura e outros programas governamentais de subsídio à produção artística tornaram-se uma “faca de dois gumes”. Percebemos de um lado maior profissionalização do setor para pleitear e participar de editais e projetos de lei. Por outro, as organizações ou grupos de artistas se habituaram à prática de garantir antecipadamente a cobertura de seus custos de produção por meio de recursos públicos diretos ou de patrocínios incentivados. Essa realidade acaba criando uma dependência desse tipo de financiamento, gerando pouca atenção para outras formas de receita que alcance autonomia e sustentabilidade.
Uma produção planejada e constantemente avaliada pelos procedimentos da gestão administrativa possui maiores chances de enxergar novas possibilidades e buscar alternativas de financiamento. Essa visão é extremamente importante diante da falta de uma política pública cultural estruturante em nosso país e do ridículo orçamento público destinado à cultura. Nesse sentido torna-se fundamental a reciclagem e uma aprendizagem continuada uma vez que estamos em constante transformação. O conhecimento e a informação são fundamentais para traçar o caminho rumo à sustentabilidade.
Existem hoje no Brasil alguns bons programas de formação de empreendedores culturais ou de gestão cultural com ensino à distância (via internet). Um dos melhores é o da DUO Informação e Cultura www.duo.inf.br. Vale a pena conferir.