Marion Brede – mulher circense – uma multidão de artes circenses

Veja Vídeoentrevista realizada pela equipe do Circonteúdo com  Marion Brede


Em 2007 iniciamos nosso trabalho de pesquisa com o artista circense Ramón Martin Ferroni (Equilibrista e Malabarista), conhecido como Don Ramón. Já no final de 2009, fomos contemplados com o Prêmio Carequinha de Estímulo ao Circo, da Fundação Nacional das Artes (Funarte – Minc – Brasil) com um projeto que visava a realização de um documentário sobre o Don Ramón; a digitalização de todo o acervo de imagens e vídeos do artista; a realização de um inventário de seus materiais de trabalho e o registro fotográfico desses materiais, que nos foram doados por Ramón Ferroni.

Além disso, ao longo de 2010, a proposta era a produção de outras fontes, em particular orais, através de entrevistas realizadas com o próprio Ramón e outros artistas que tiveram ou fizeram parte da vida artística e/ou afetiva desse artista. Assim, além do próprio Ramón, também foram entrevistas outras cinco figuras ligadas ao universo do circo, sendo elas: quatro artistas que trabalharam com ele (Nicolas Justino Diaz, Juanita Riquelme, Eduardo Bravo e Marion Brede) e um colecionador e pesquisador da história do circo no mundo (Hector Francica).

Dentre esses artistas, trataremos em especial neste texto de MARION BREDE. Na montagem do vídeo documentário sobre o Don Ramón, intitulado Bravo Ramón!, a entrevista com a Marion foi editada e reduzida para compor o quadro de fontes. Entretanto, sempre foi nossa intenção que o resultado do encontro com esta incrível mestra e artista fosse publicado integralmente no Circonteúdo como um vídeo entrevista.

Marion Brede nasceu na Alemanha, em 1949, no circo Franz Althoff, onde os pais, o ginasta Horst Brede e a trapezista Margot Burket, trabalhavam. Parte de sua história não difere de muitas outras de artistas circenses múltiplos. Entretanto, como em toda história de vida, há características que nos distinguem e que nos tornam únicos. No caso de Marion, sua trajetória a torna de fato única não somente pela superação, quando criança, de uma doença que resultou em sequelas físicas e mesmo assim ter se tornado uma excelente e renomada artista, mas também em função de todos os caminhos que traçou e pelas várias formas que reinventou a vida como circense.

Considera-se como representante da tradicional forma de fazer circo, mas, ao mesmo tempo, é a principal referência de Campinas, quiçá do Brasil e América Latina, de formação de jovens nas artes do circo, junto com seu marido Félix (Felismer) Caro.

A importância da referência à cidade de Campinas tem história. Até a década de 1990, a não ser pelas aulas de iniciação circense que o professor Luiz Rodrigues Monteiro ministrava no Instituo de Artes – Departamento de Artes Cênicas da Universidade Estadual de Campinas –, e pela artista circense e arte-educadora Jaqueline (nascida e criada no circo Bom-Bril) – ex-fundadora do projeto social Lonas das Artes, que desde 1997 oferecia e oferece oficinas de arte circense, Marion foi e é a principal referência de formação de jovens na cidade de Campinas. Monteiro ficava restrito ao espaço da Faculdade de Teatro na Universidade; Jaqueline aos espaços sociais (o que não é pouco). Contudo, havia e há um número imenso de pessoas oriundas dos mais diversos lugares sociais campineiros e do Brasil que procuraram e procuram a Marion e seus familiares circenses para aprender a arte do circo, pessoas estas como estudantes do ensino médio e do ao ensino superior;  alunos de escolas de circo profissionalizantes (como os da Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro e o Cefac – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses, em São Paulo); profissionais artistas já formados por essas escolas que a procuram com o objetivo de se aperfeiçoarem;  profissionais artistas autônomos que têm na Marion e sua família referências fundamentais para continuarem a exercer suas artes.

Enfim, Marion Brede tornou-se referência para todos aqueles e aquelas que em Campinas, e no Brasil, querem se dedicar às artes circenses. Além disso, Félix, seu companheiro, além de mestre, é o principal nome quando algum artista está querendo montar ou construir um aparelho aéreo, uma estrutura de circo, etc.

É interessante que tudo isso começou quando Marion teve que parar com a atuação nos circos de lona itinerantes e fixar moradia em Campinas, devido à morte do pai. Assim, foi procurada para ensinar volteio acrobático para jovens no Club Hípica de Campinas.

Para ensinar volteio, insistiu no fato de que as crianças necessitavam se fortalecer com exercícios físicos e, em função disso, passou a ministrar aulas e treinos físicos e de modalidades circenses no quintal de sua casa. Num dia, o casal Marcos Becker e Marília Ennes, fundadores do grupo Paraladosanjos Produções Culturais Ltda., passando em frente à casa, observaram aquela mulher ensaiando as crianças. Perguntaram se ela entendia de circo e de trapézio e logo iniciaram o aprendizado de trapézio e outras técnicas circenses. A partir daí surge um dos “fundos de quintais” de maior referência do país e da América Latina, o quintal da casa de Marion, onde já passou uma parte significativa de artistas iniciantes e profissionais que hoje estão por ai ou por terras estrangeiras exercendo as artes circenses.

Não deixem de ouvir um pouco da história de vida dessa mulher que é uma multidão de pessoas, artistas, vivências e que tem muito a ensinar.

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