O ensino do circo e a Arte Educação

Historicamente o ensino das atividades circenses formou-se em um modelo pedagógico baseado na educação nuclear, familiar e de transferência oral do conhecimento gerado dentro desses núcleos. Durante centenas de anos este modelo de ensino aprendizagem se estabeleceu e serviu aos propósitos da Arte Circense, porem, recentemente novas necessidades pedagógicas foram sendo exigidas à medida que este paradigma foi sendo colocado a prova.

Este momento marcou uma das rupturas recentes da historia do circo, podendo ser, inclusive, considerado um dos marcos do surgimento do estudos sobre Circo Educação Contemporânea e do aumento do intercambio de estudos pedagógicos de diferentes áreas das Ciências da Educação com o circo.

Tudo isso se deve ao surgimento de novas concepções e aplicações dos conhecimentos das atividades circenses, reconhecimento do seu potencial educativo e desenvolvimento das atividades circenses “extra lona”1, como exemplo podemos citar o trabalho de ONGs, Circos escola, academias de circo e algumas trupes que não tem o seu trabalho essencialmente vinculado a lona.

Nesta última, o desenvolvimento das atividades circenses “extra lona”(1), podemos nos empenhar um pouco mais e notar o quão importante foi a possibilidade de acesso aos ensinamentos circenses para toda a população, a democratização e sociabilização do saber circense passa por este momento histórico do circo.

O circo é tido como uma arte do povo, popular, isso se deve à significativa facilidade que a população tinha em ter acesso a um espetáculo circense, em suas mais diferentes variedades, sempre como expectador, assistir era, predominantemente, a forma de se ter contato com o universo circense. A partir de um determinado processo histórico a arte circense se desprende de um espaço físico determinado, a Lona, e se espalha por diferentes locais, praças, clubes, teatros, ginásios, escolas, academias, universidades, dentro outros. O papel do publico muda, agora ser expectador não é a única forma de se participar do circo, é possível fazer, aprender, estudar, criar e reinventar o circo através de experiencias inéditas.

Junto com todas estas novas formas de se fazer arte circense veio a necessidade de se formar este novo educador circense, voltado para a educação contemporânea e que entenda o circo não somente como mais uma atividade física e tecnicista, neste momento o “saber fazer” deixa de ser a única qualidade exigida e passar a ser somente mais uma, onde o “saber ensinar” se faz necessário e ganha força e valor.
As relações de ensino aprendizagem nuclear e familiar, baseada na oralidade, que outrora serviram para o desenvolvimento e perpetuação da linguem circense por anos, passam de certa forma, quando aplicadas isoladamente, a perder sua eficacia e a não condizer com as necessidades deste novo conceito de educação que é fundamentado com outros objetivos e argumentos.

Surge então as primeiras tentativas de se aproximar o conteúdo trabalhado em pesquisas educacionais ligadas as relações de ensino aprendizagem em espaços alternativos as necessidades deste publico de educadores circenses que não haviam tido a possibilidade de ter contato com tais estudos.

Hoje este intercambio de conhecimentos pode ser claramente visto no currículo dos novos educadores circenses que chegam ao mercado e na procura por cursos de qualificação profissional na área de educação por este publico que busca, além de formação na área da educação, formação específica em questões pedagógicas diretamente ligadas à pedagogia e à didática da atividade circense.

Embora tais cursos, voltados para educadores circenses e que trabalhem questões da Arte Educação Contemporânea, incluindo processos de criação e estudos do movimento, ainda não existam no Brasil, há necessidade de se buscar tais conhecimentos por meio de outros cursos que ofereçam a formação desejada pelo arte educador.

“O Arte Educador Circense que queira estudar mais a fundo questões de sua área, ainda conta com uma barreira extra, a falta de acesso e a inexistência de material bibliográfico e documentos para seus estudos.
Estas realidades desencadeiam em profissionais que não tiveram acesso a formação pedagógica adequada.” (DIAS, 2011 p2)

Mesmo que hoje existam grandes e louváveis iniciativas em prol da publicação de material sobre circo, algumas áreas bastante especificas dentro da linguagem continuam desprovidas de qualquer material de apoio à aquele que pretenda estender seus estudos neste campo, ainda hoje a produção literária sobre alguns campos é precária. Uma alternativa é estudar em linguagens artísticas e campos que, de certa maneira, produzam conhecimento necessário para tentar suprir a lacuna encontrada, como as artes plasticas, danças, musica, teatro, pedagogia, psicologia e educação física. Uma destas áreas onde encontramos escassez de publicações é justamente a Arte-educação Circense, podemos contar em menos de uma dúzia os estudos dedicados a esta área, ainda assim, poucos disponíveis ao público através de meios de comunicação, como a Internet. Em uma rápida busca de artigos em bancos de dados de publicações – Scielo.org (2), Google Acadêmico (3) – praticamente não encontramos mais que duas ou três entradas sobre o tema.

Com falta de material específicos, lugares para estudo e pesquisas fica claro o papel do Arte Educador, pesquisar em diferentes áreas, propor e buscar conhecimentos, escrever, compartilhar e publicar são práticas que, sem dúvida, servirão para proporcionar bons alicerces aos que virão mais a frente, sem se esquecer das origens do circo e dando a ela seu devido valor.


1. Entendendo o terma “Extra Lona” como atividades que, essencialmente, não se caraterizam por serem realizados sob Lonas, mas que, podem também assim ser feitas.
2. www.scielo.org
3. scholar.google.com.br

Related posts

As pesquisadoras

circon

As dificuldades que os autores de periferias encontram nas edições de seus livros – Festa de Literatura e Cultura Rio das Ostras

Silva

Escola de Circo Laheto (GO) – Ação coletiva em defesa da Escola Nacional de Circo Luiz Olimecha (ENCLO)!

giane