Saudação à doutora Ermínia Silva

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Terezinha Pereira durante seu discurso. Foto: Divulgação

Neste artigo, o discurso proferido em 29 de maio de 2010, no Museu Histórico de Pará de Minas, em reunião aberta da ACADEMIA DE LETRAS DE PARÁ DE MINAS. Na ocasião, foi homenageada a pesquisadora, historiadora, doutora Ermínia Silva que, através de seus estudos e publicações, resgata a obra e feitos do artista desta terra, Benjamim de Oliveira. Juyraçaba Santos Cardoso, neto de Benjamim de Oliveira, presença valiosa, também foi homenageado.

Doutora Ermínia, respeitável público,

Era uma vez… um menino de nome Benjamim, nascido na Fazenda dos Guardas, em terras de Patafufo. Esta história começou há 140 anos. O menino era filho de escravos alforriados. Dizem que ele vinha à cidade sempre que havia festas. Vinha vender doces que a mãe fazia. E quando vinha o circo, o menino se encantava. De tão encantado, com apenas doze anos de idade, resolveu acompanhar uma trupe que esteve por aqui. Pode ser porque quisesse uma vida mais feliz do que a que vivia junto a donos de escravos.

Pensam que foi tudo uma festa? Nada disso. Benjamim chegou a comer o pão que o diabo amassou. Havia o preconceito. Havia a escravidão. Donos de circo se achavam donos de seus artistas. De seus obreiros. (Pensando bem, coisa que ainda não mudou em muitas empresas, até hoje, não é mesmo?). Mesmo assim, de ajudante de levantador de estaca de lona de circo, passou a malabarista, arriscou-se no trapézio, chegou a palhaço principal. Foi um grande palhaço, apesar de negro. Para muitos, o maior de todos palhaços.

De circo em circo, Benjamim passou por diversos lugares de Minas e de S. Paulo até chegar ao Rio de Janeiro, então capital federal. Sentiu que lá era a sua praia. Conquistou um grande e respeitável público e, segundo a história, até presidentes da república. Tornou-se um artista completo: escreveu músicas, fez cinema, foi empresário, escreveu peças de teatro. Uai. O que tem a ver teatro com circo? Benjamim usou o picadeiro como palco. Debaixo da lona, havia o respeitável público. Mais tarde, ele comentou que fez isso por sentir que o Rio era muito grande e que o povo queria teatro na porta de casa. Que teatro fixo poderia satisfazer uma parte, mas não todos. E que, organizar companhia para um subúrbio apenas, não resolveria de modo algum o problema de divulgação da arte cênica.

Não foi por acaso que Ermínia Silva trombou com o nosso Benjamim. Ela é uma estudiosa que vem de família de circenses e que desde menina sabia histórias do “povo do circo”. Quando se tornou gente grande, ela procurou livros que contassem histórias de gente do circo e não encontrou nada. Em 1985, segundo disse, começou a entrevistar seus familiares, com a intenção de saber sobre a origem de sua família. Depois, procurou pessoas de outras famílias circenses. E foi ficando mais curiosa ainda. Por que seria que essas pessoas conheciam tão pouco da riqueza da história do circo? Talvez, sua curiosidade tenha a levado a estudar História na Universidade Estadual de Campinas. Assim, em 1994, ela pôde dar continuidade às entrevistas e consolidar seus estudos e pesquisas sobre o processo histórico do circo e de seu povo no Brasil.

Enquanto manuseava uma papelada antiga, revistas, jornais do final do séc. XIX e início do séc. XX, Ermínia deu de cara com o nosso Benjamim de Oliveira, que havia falecido lá no Rio de janeiro, em 1954. Para ela, Benjamim estava mais vivo do que nunca. E, ao que me parece, foi um amor à primeira vista. A estudante Ermínia Silva passou a “perseguir” a história de Benjamim, que ela viu toda entrelaçada com a própria história do circo, que ela procurava conhecer. Estudando coisas do circo, Ermínia tornou-se mestra e doutora. Sua dissertação de mestrado e a tese de doutorado acabaram se transformando em livros que viajam pelo Brasil afora e por outros países levando a historia de Benjamim e do circo.

Na época em que pesquisava, Ermínia veio a Pará de Minas. Visitou a Fazenda dos Guardas onde nasceu Benjamim. Veio aqui ao Museu para revirar a papelada que a Ana Maria Campos cuida e guarda como um tesouro. E hoje está ela aqui de volta ao Museu, em casa de Patafufo. Traz consigo uma grande bagagem da história do circo, no período de 1870 a 1910 e mais alguns anos, que ela não para de estudar. Quer desvendar, aos olhos do respeitável público, um espetáculo circense contemporâneo, inovador e agregador de múltiplas linguagens. Traz de volta para o povo de Pará de Minas, a figura de Benjamim de Oliveira, para muitos, um desconhecido conterrâneo, que não passa de um nome de rua. Rua Artista Benjamim de Oliveira, que parte da Rua Cel. Domingos Justino e vai terminar na Rua Antônio Praxedes, lá no bairro Nossa Senhora das Graças. E mais ainda. Traz Juyraçaba Santos Cardoso, neto de Benjamim de Oliveira, que na infância e adolescência, contracenou no picadeiro com o avô. Que presente!

Por essa razão, doutora Ermínia Silva, é com grande satisfação que a Academia de Letras de Pará de Minas, na pessoa de sua presidente Adélia Salles, vem lhe outorgar o Diploma de Acadêmica Honorária desta Academia.

Respeitável público, muito obrigada pela presença. Espalhe a notícia. Conte para todos quem foi Benjamim de Oliveira.

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