Trupe de Generosos Intrépidos

Depois de 23 anos de ousadia criativa, é desnecessário explicar a importância da Intrépida Trupe no cenário dos grandes e mais importantes grupos performáticos do Brasil. A força do seu nome e marca artística superou as possibilidades do design de um bom logotipo, porque não surgiu de uma boa estratégia de diálogo com o mercado de cultura, mas sim da utopia critiva de (re)significar as possibilidades de apor o corpo no limiar do impossível, nos limites da física e em simbiose com coisas, objetos e espaços.

Assim se forjou e se consolidou a identidade estética e a originalidade artística deste grupo que construiu referências simbólicas para o movimento que uns definem como o “novo circo” ou como o “circo contemporâneo”. Mas que eu, em minha modésta capacidade “crítica”, construída a partir do olhar de um espectador metido a entender de tudo, classifico como o grupo que de maneira pioneira resgatou a  tradição de contemponeidade do circo como forma de organização e modelagem do espetáculo,  suscitando (todo o tempo) a dúvida sobre o que são e os debates do tipo: “é circo?”; “não,  é dança!!!”; “ah isso é teatro!!!”, enfim… no final todos acabam chegando a conclusão de que é a Intrépida Trupe, onde cabem todas as formas de expressão, linguagens, coisas e tudo mais que a principal componente do capital humano – a criatividade -, pode produzir, com o objetivo de suscitar emoções, imaginações e novos sentidos no grande público.

Assim, defino de maneira modesta a importância estética da Intrépida Trupe no campo dos empreendimentos criativos e dos fazimentos performáticos, mesmo que eu não porte qualquer capacidade, habilidade ou experiência em crítica cênica – desafio que me lancei nestas primeiras linhas, ancorado no olhar de um espectador e fã.

Agora quero tratar do elemento que me anima nestas linhas – a generosidade criativa, desta trupe de pessoas que há 23 anos seguem reiventando e criando meios e formas de apropriação e difusão da cultura e das artes circenses.

Como gestor de uma organização que trabalha com a formação de jovens utilizando o circo como ferramenta pedagógica alternativa, deixo o registro do que produziu e vem produzindo a Intrépida Trupe em termos de conhecimentos didáticos circense. Neste campo, o grupo modelou metodologias de segurança de aparelhos, de engenharia circense e, sobretudo, de domínio e consciência do corpo, hoje replicada e copiada pelos principais espaços e centros de formação circense do Brasil.

O mais bacana de tudo isso é que a Intrépida Trupe desenvolveu e segue desenvolvendo tais métodos no melhor estilo copyleft permitindo a diferentes grupos, companhias, coletivos, escolas e circos de todo o Brasil o acesso a estes conhecimentos através do envolvimento dos seus membros em processos criativos e formativos de outros sujeitos produtivos das artes circenses no Brasil.

O impacto da metodologia de ensino e aprendizagem, em especial das linguagens corporais e acrobáticas desenvolvida pela Intrépida Trupe, somada a generosidade intelectual e criativa com a qual difundem seus conhecimentos , terá sido no futuro próximo, responsável pelo bom caminho que o circo brasileiro vem perseguindo, em busca da qualificação dos seus processos produtivos e de formação.

Vida longa a Intrépida Trupe!!!

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