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Educação infantil, educação física e atividades circenses (pdf)

A procura pela Educação Infantil tem aumentado muito, tendo em vista a crescente urbanização, a maior participação das mulheres no mercado de trabalho e a transformação na estrutura familiar, além da maior consciência da sociedade sobre a importância das experiências na primeira infância (LIMA, 2002). Apesar de no estatuto da LDB, título VI, art.62, constar a exigência de que a formação do profissional para atuar na Educação Infantil deva ser uma formação em “nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na Educação Infantil […]” (BRASIL, 1998, p. 39), a situação da Educação Infantil ainda é precária, e os professores muitas vezes não possuem formação acadêmica adequada e, portanto, não estão formalmente preparados para trabalhar com essa faixa etária.

É preciso na Educação Infantil tomar a “criança como ponto de partida” isto significa pensar num currículo que contemple diferentes linguagens em suas múltiplas formas de expressão, as quais se manifestam por meio da oralidade, gestualidade, leitura, escrita, musicalidade “Estas formas de expressão, vividas e percebidas pelo brincar, representam a totalidade do ‘ser criança’ e precisariam estar garantidas na organização curricular da sua educação […] e não enquadradas em áreas do conhecimento e alocadas em disciplinas” (SAYÃO, 1999, p. 234)
Afirma-se cada vez mais a idéia de que é importante na Educação Infantil, um professor “completo”, que trabalhe com todas as áreas do conhecimento, mas muitas vezes, nas universidades, vemos que os profissionais de licenciatura, saem especializados e, portanto, com bagagem insuficiente para atuarem em todas aquelas áreas, surgindo então, a necessidade de dividir o tempo entre alguns profissionais, o que acaba acarretando uma disciplinarização desse nível de ensino.

KISHIMOTO (1999, p. 73) completa este raciocínio quando nos trás que:

As múltiplas relações que podem ser estabelecidas em ambientes educativos nos quais convivem crianças de faixas etárias diversas, juntamente com profissionais de várias áreas, além de pais e membros da comunidade, constituem portas de entrada para a construção do conhecimento que se processa quando se respeita a diversidade social e cultural, a multiplicidade de manifestações da inteligência e a riqueza dos contatos com personagens e situações.

 

Se por um lado, essa divisão pode tornar-se prejudicial porque a troca de um professor por vários professores faz com que as crianças se sintam deslocadas e os professores se sintam fora de contexto, por outro lado, se houver um entendimento entre os diferentes conteúdos das diferentes disciplinas, entre o professor que acompanha o grupo durante todo dia e os professores especialistas, ou seja, se for feito um trabalho realmente interdisciplinar, acredita-se que haverá uma melhoria na Educação Infantil, tendo esta, uma ação mais completa na vida das crianças.

O profissional de Educação Física tem algumas responsabilidades com essa faixa etária. Lopes (1997, p.12-13) escreve em sua dissertação de mestrado sobre a Educação Física na Educação Infantil:

Pode-se afirmar, então, que a Educação Física na idade pré-escolar pretende educar o domínio motor ou psicomotor (também assim chamado), permitindo a criança, segundo Machado (1994), um comando inteligente de suas ações físicas. Isto significa que o corpo é na criança, o elemento básico de contato com a realidade exterior (criança ambiente), portanto, para que possa chegar às capacidades de análise e síntese de representação mental, faz-se necessário que estas funções tenham sido realizadas previamente, e de forma concreta, através da ação corporal, executando tarefas motoras que visem desenvolver e refinar uma ampla variedade de habilidades fundamentais progredindo de um estágio inicial, passando por um estágio elementar, para finalmente atingir o estágio maduro.

Além de educar a ação corporal da criança, o profissional de Educação Física também deve fazer com que a criança entenda a sua realidade, integrando assim a sua própria cultura ao seu movimento corporal.

Lima (2002, p. 27) diz que a Educação Física, tem um valor precioso, uma vez que proporciona a criança a chance de vivenciar “[…] diferentes formas de organização, da criação de normas e formas de realizar tarefas e atividades, de descobrir maneiras variadas de cooperação e participação nas mais diversas situações […]” permitindo a modificação da criança e do seu meio social.

O jogo é uma ferramenta da Educação Física importantíssima para a introdução da atividade física na escola de Educação Infantil, devido ao seu caráter lúdico. Piaget (1932) expõe que por meio dos jogos podemos perceber o desenvolvimento da inteligência e do pensamento das crianças. Para isso, ele propõe uma classificação dos jogos em jogos de exercício, jogos simbólicos e jogos com regras. Especificamente neste trabalho estamos falando do segundo estágio, que é o jogo simbólico, em que a criança cria aquilo que deseja no momento em que ela assim o queira, somente com pensamentos e imaginações.

Enfim, quando à inteligência motora se juntam a linguagem e a representação, o símbolo torna-se objeto de pensamento. A criança que empurra uma caixa dizendo “ram-ram” assimila, em sua imaginação, esse movimento àquele do automóvel: O símbolo lúdico está definitivamente construído. (PIAGET, 1932, p. 28)

O circo entra no âmbito escolar justamente no que diz respeito ao jogo, e na Educação Infantil especificamente, ao jogo simbólico/ dramático/ jogos teatrais e jogos historiados. Bortoleto (2006) apresenta em seu artigo “Circo y educación física: los juegos circenses como recurso pedagógico” que o jogo é um tema muito abordado por muitas disciplinas como a matemática, a história, a filosofia entre outras e que, portanto, a importância do jogo para o ser humano e para a cultura é mais que um consenso universal, afinal, ele supre a necessidade lúdica e de socialização que possuem todos os animais incluindo os seres humanos, assim, o autor conclui afirmando que as atividades lúdicas em geral e o jogo motor em particular, constituem um conteúdo fundamental para o âmbito educativo, e que, além disso, transmitir todo esse conhecimento a seus alunos é responsabilidade do educador físico. Bortoleto (2006. p. 15-16) ainda completa:

En medio de este inmenso universo lúdico que abarcan los juegos, se encuentran los denominados “juegos circenses”, es decir, situaciones ludomotrices adaptadas y/o creadas en base a la motricidad típicamente circense. La puesta em práctica de estos juegos pretende, en primer lugar, aprovechar el potencial lúdico y motivacional que poseen estas situaciones para aproximar a los estudiantes al mundo del Circo, a menudo marginado en el ámbito educativo, tal y como señalan Gaquiere (1992) y Pitarch (2001, p. 56)

Ao contrário de algumas proposições teóricas que apresentam e justificam o jogo como importado em si mesmo, neste trabalho atribuimos ao jogo a situação lúdica para introduzir, acessar, discutir e vivenciar as atividades circenses na Educação Física.

A prática da atividade circense possui um grande valor sócio-cultural e está vivendo um aumento expressivo do interesse da população nos últimos tempos. Esta prática trás consigo valores cívicos, morais e educacionais de fundamental importância para a vida em comunidade e para o desenvolvimento pessoal e social, respondendo, dessa forma, a estas grandes necessidades da sociedade moderna. Além disso, trás consigo aquilo que as outras práticas trazem com menor ênfase: possibilidade de uma educação artística, corporal, estética e de criação, fruto da liberdade, autonomia e crítica artística. Enfim é uma possibilidade expressiva e comunicativa.

A sugestão desse trabalho é descrever e analisar uma proposta de atividades circenses que foram ser levadas para uma escola de Educação Infantil, onde o circo tornou-se uma realidade na vida das crianças, proporcionando assim uma experimentação de uma parte daquilo que é visto nos espetáculos circenses, levando-se sempre em conta as capacidades de cada criança.

Dessa maneira, esta proposta pedagógica teve como objetivo permitir que os alunos conhecessem as modalidades circenses e as vivenciassem, conhecessem os potenciais do seu corpo, do corpo do seu colega e dos materiais utilizados, aprendessem a fazer materiais alternativos, vivenciassem a experiência da alegria do circo e participassem da produção de um pequeno espetáculo finalizando as atividades da escola, exibido para todas as crianças da escola e respectivos familiares.

A experiência de trabalhar em uma creche da periferia de Campinas, aliada à forma como propusemos as atividades e as constantes consultas aos autores estudiosos do circo e das pedagogias circenses, formaram um rico material para este trabalho.

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