Joval e Leda Rios

Hermância e Tairone Feitosa para o Pindorama Circus, 2003

Joval Rios nasceu em Ilhéus (BA), no dia 22 de abril de 1919. Filho do comerciante de cereais Antonio Queiroz Pereira e Ermância Queiroz Pereira. Leda Rios – Durvalina Feitosa Pereira – nasceu em 11 de maio na Vila da Pedra (AL) . Filha de Luiz Feitosa de Alcântara e Maria Isabel de Alcântara. Ele desde criança teve vontade de conhecer o mundo, pessoas, lugares diferentes. Ela amava sua terra natal, mas como ele, queria conhecer o mundo.

Aos 14 anos, ele começou a trabalhar como operador do Cine Teatro Ilhéus, onde aprendeu a desenhar cartazes de filmes, habilidade que lhe valeria sua entrada no circo, pois, no ano de 1937, seguiu com o Circo Havaí como pintor de cartazes. Assim Joval começava a realizar seu grande sonho: correr mundo. E, correndo mundo, Joval se formou na escola do circo como trapezista e palhaço.

Em 1941, já com Circo J. Lima, chegou a Vila da Pedra (AL), e na sua primeira exibição no trapézio, avistou Durvalina, no esplendor dos seus 20 anos. Morena faceira, Durvalina tinha muitos encantos. Um deles, que conquistou Joval de vez, foi sua voz aveludada que aliada a uma sensibilidade musical rara fazia dela uma cantora em potencial. Quinze dias depois de se conhecerem, no dia 7 de agosto de 1941, eles se casaram. Com Joval, que na época já atuava como ator, Durvalina virou então a cantora Leda Rios:

– Cantei com muita paixão um repertório bem variado, do romântico ao samba rasgado. Me vesti de baianas e cetins, e sentia no palco uma emoção grande, dessas que arrepiam a pele da gente.

Os dois trabalharam no Parque de Diversões Versailles, quando ela estava esperando seu primeiro filho: Tairone Feitosa. Depois, eles montaram a Troupe Versailles e continuaram suas andanças em plena 2ª Guerra Mundial, sobrevivendo com o que podiam adquirir no trabalho.

A vida não era fácil, mas eles estavam felizes. As viagens eram verdadeiras aventuras, pois iam desde os caminhões, barcos, troles e trens até o lombo de cavalos, a exemplo da época da Guerra, quando iam aos lugares mais estranhos para fazerem apresentações, como cemitérios, alojamentos de soldados que estavam combatendo na guerra, e tantos outros. Anos depois, Joval, assim resumiria a vida circense:

– O “raiar do Sol e o suspender da Lua” traduzem de forma primorosa a vida circense: O raiar do Sol – é a dura realidade da vida: armar e desarmar, torcer por público, esperar, esperar… O suspender da Lua é a magia do espetáculo, é a luz da ribalta, é o aplauso…

ledaEm 1946, Joval e Leda Rios ingressaram no Circo Teatro Fekete, onde fizeram grandes amigos como Bob, Charles, Eros Arruda, Nini, Raquel e, principalmente Alberto Fekete que, de certa forma foi um mestre, lapidando-os na arte de interpretar. Segundo Joval Rios, poucos teatros no Brasil tinham a qualidade de montagem de peças teatrais como o Circo Fekete. Grandes épicos eram levados como Os Miseráveis e A Queda da Bastilha.
Deixando o Fekete, o casal montou novamente a sua Troupe – agora com o nome Joval Rios e seus Artistas. Mais maduros, montavam esquetes e pequenas inserções teatrais. Dessa Troupe surgiram nomes de destaque na música brasileira, como é o caso de Waldeck Artur Macedo – o Gordurinha – autor de Súplica Cearense, Bianor Batista e Nelson Roberto.

Em 1949, inaugurou, juntamente com Barreto Júnior, como primeiro galã da companhia, o Teatro Al Mare, em Recife (PE), interpretando o personagem Artur, da alta comédia Amor, de Oduvaldo Viana.

Em 1951, deixa a companhia de Barreto Junior para seguir com o Circo Nerino. Na companhia circense fez grandes amigos, como o próprio Nerino, o palhaço Picolino e proprietário do circo, sua esposa Armandine Avanzi, Gaetan Ribola e Roger Avanzi que o fez ingressar na Maçonaria em Março de 1952, em Fortaleza (CE).
De volta, em 1954, à Companhia de Barreto Júnior, em Recife (PE) Joval teve a oportunidade de conhecer e atuar nos grandes teatros do Norte e Nordeste, inclusive no Teatro Amazonas, para ele um dos mais bonitos e pomposos do Brasil. Teve também o prazer de contracenar com grandes atores, como Lúcio Mauro, que na época era um dos galãs da companhia, o outro era o próprio Joval.

No final dos anos de 1950 foi cenógrafo da TV Jornal do Comércio, ao lado de Maéber Lima, seu grande amigo, e como ator, atuou em vários tele-teatros que a empresa apresentava em sua programação.

Em 1972, depois de trabalhar por vários anos na Companhia Agro Fabril Mercantil como mestre de expedição (Delmiro Gouveia), Joval e Leda novamente saem em busca de seu sonho: correr mundo. E correr mundo para eles é correr mundo com o circo. Dessa vez o Circo Pavilhão Nacional, e seguem viagem pelo sertão de Alagoas.

Mas o circo-teatro já havia perdido seu espaço, e para eles, a parte mais importante do espetáculo seria o teatro. O Pavilhão Nacional não tinha picadeiro e seus espetáculos seguiam o estilo da revista. O empreendimento não deu certo financeiramente e, em 1974, o casal instalou-se definitivamente em Delmiro Gouveia, onde reside até hoje.
Joval Rios e Leda Rios festejaram, em 2001, suas Bodas de Diamantes (60 anos) ao lado de seus filhos, netos e bisnetos, genro, noras e amigos, dando um claro exemplo para todos de que a vida vale a pena “quando é guiada pelo acaso, movida pelo sonho e vivida com paixão”, palavras de Tairone Feitosa.
– O homem que nasce para viver em Circo é um predestinado. Tem a sorte de conhecer o mundo, conhecer pessoas, fazer amigos Se pudesse voltar no tempo, escolheria o Circo novamente. (Joval Rios).

Na manhã do dia seis de dezembro de 2002, início de uma nova Lua Nova, JOVAL RIOS espalmou a mão e disse sua última fala: – “Tenham calma…”

Então, a cortina baixou, ele partiu nos primeiros raios do Sol para desfilar sua arte e viver seu amor pelo Teatro e pelo Picadeiro no Grande Circo da Eternidade. Sua esposa e companheira, Leda Rios, alguns meses depois, se juntou a ele.

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