Luana Tamaoki Serrat

Sabe aquelas histórias dos circenses que nasceram no circo costumam contar e repetir? Tipo: fiz a minha estréia, ainda na barriga da minha mãe.Ou então: tenho mais tempo de circo que de vida.Tem ainda: entrei pela primeira vez no picadeiro com dois meses de idade. E outras tantas mais? Pois bem, Luana Tamaoki Serrat, por sorte ou azar, pode se gabar de todas elas. Ainda na barriga da mãe, praticou acrobacia com o mestre Juscelino Savalla. Estreou no picadeiro, aos dois meses de idade, nos pequenos braços do grande e saudoso Pingüim, parceiro de Picolino – Roger Avanzi. Aprendeu a engatinhar nos tapetes do circo da Academia Piolin; e antes mesmo de andar, deu sua primeira cambalhota. Apresentou-se ao público, pela primeira vez, com 3 anos de idade, ao lado da amiga Noara de Carvalho Mello, fazendo cambalhotas e batendo palminhas.

Aos 4 anos, em 1985, um acontecimento acentuou ainda mais a vocação de Luana. É que seus pais Anselmo Serrat e Verônica Tamaoki – sou eu mesma, Luana é minha filha – fundaram a Escola Picolino de Artes do Circo em Salvador (BA). Ela pôde então brincar de circo na companhia de muitas outras crianças. Aos 7 anos, em 1989, Luana fez sua primeira turnê internacional… Menos? … É verdade, confesso, que não era bem uma turnê mas um Festival de Circo no interior da França – IV Reencontrès Internationales de Cirques d’enfants, em Voiron.

Aos 10 anos, vivendo então em São Paulo, Luana trabalhou com o Teatro Oficina. Foi a Cacilda Becker menina de Cacilda! de José Celso Martinez Correa, nas primeiras leituras da peça. Atuou como atriz, acrobata, contra-regra e ponto – no processo de remontagem – da peça As Boas de Jean Genet, no I Festival de Teatro de Curitiba, Teatro José de Alencar de Fortaleza e Teatro do Parque de Recife. Em Curitiba, ensaiou uma cena linda para a abertura da peça em que ela saía de dentro de uma caixa de papelão, com o Zé Miguel Wisnick cantando um poema de Paulo Lenninski:

Acenda a lâmpada às seis horas da tarde
Acenda a luz dos lampiões…

Mas como havia um juiz muito enjoado que não permitia a presença de crianças em espetáculos noturnos de Curitiba, a cena não foi apresentada, mas ficou gravada na memória de quem viu, especialmente na do poeta cantor – Zé Miguel sempre a evoca.

Em 1997, já com 16 anos, participou do encontro Universidade do Circo, no Rio de Janeiro (RJ), sob a direção de Pierrô Bidon, ao lado de artistas circenses de todo o país. No ano seguinte, Luana e sua parceira Morena Maia fizeram estágio de 6 meses, na Escola Nacional de Circo, Rio de Janeiro (RJ). A partir de então, Luana ganhou o mundo… Como??? Menos, outra vez? … Mas não é exagero, é só uma forma de expressão. …Retificando: na companhia da Escola Picolino, Luana esteve na Inglaterra, Alemanha, Bélgica, Holanda, Suiça, Dinamarca e Áustria, participando do O Circo das Mil Faces – que reuniu artistas da África, China e Brasil. E posteriormente, realizou uma turnê pela França com o espetáculo “Batuque”, direção Anselmo Serrat.

Nos últimos anos, Luana começou a estudar teatro, ingressando no curso de teatro da Universidade Federal da Bahia, e participando, em 2004, da montagem da peça “Bonitinha mas ordinária”, de Nelson Rodrigues, direção Paulo Cunha, no papel de Maria Cecília, a bonitinha. Mas ordinária.

luanaHoje, Luana é aluna da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, onde cursa 3º semestre de interpretação, e continua na ativa com a Picolino. Ano passado, 2005, trancou matrícula para viajar pelo Brasil ( Brasília, Floripa, Aracajú, Maceió, Maranhão, Fortaleza, Juazeiro do norte, Crato) com o espetáculo Cenas Cotidianas, dentro do projeto Palco Giratório.

Luana é um dos exemplos da transformação da família circense. E, como sonhou o poeta, lutemos para que ela se transforme ainda mais. Até que o pai seja, pelo menos, o universo, e a mãe, no mínimo, a Terra.

Abril de 2005


contato do artista: luanaserrat@hotmail.com


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