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Histórias do aqui e agora: cabaré e teatralidade circense

Resumo: Nos últimos dez anos, no Brasil, grupos de artistas circenses que não possuem ligação específi ca com os circos itinerantes ou de lona, em geral oriundos de escolas de circos, artistas circenses profi ssionalizados ou não, procedentes de diversas áreas das manifestações artísticas (teatro, dança, música, etc.), têm experimentado organizar espetáculos que são denominados de cabaré. A idéia que perpassa essas iniciativas é a de que as apresentações contenham uma diversidade de números artísticos, reunindo, além do próprio grupo ou escola, organizadores do evento, também convidados externos a eles. A partir de um curso de história do circo em uma escola de circo: Cefac – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses, foi possível debater com os alunos em sala de aula sobre a história do conceito, dos espetáculos e das casas denominadas cabaré, relacionando-a com as artes circenses. Deste processo, produziu-se este texto descritivo e analítico no sentido de propor um olhar sobre o significado do que seja estudar e pesquisar a história do circo. Tal perspectiva tem como referência a idéia de que vivenciamos um período dessa história, somos herdeiros e protagonistas da mesma. Ou seja, pensar num curso de história não significa só o passado, mas o ir fazendo, aqui e agora.

No primeiro semestre de 2005, o grupo composto pelos professores/coordenadores do Cefac – Centro de Formação Profissional em Artes Circenses iniciou uma discussão sobre a organização de um espetáculo, produzido exclusivamente pelos alunos, com a intenção de torná-lo um dos instrumentos de avaliação do seu processo de formação.(2) Tal proposta partiu da observação do envolvimento dos alunos quando da realização de dois espetáculos organizados pelo Centro, denominados “cabaré”.

O primeiro ocorreu em agosto de 2004, no Galpão do Circo, onde se apresentaram grupos e convidados especiais. As pessoas eram informadas de que, após o espetáculo, haveria uma festa, sendo que ambos – cabaré e festa – seriam benefi centes, ou seja, a arrecadação iria para o Cefac. Na festa teria: bebida, música e “as vitrolinhas pilotadas” pelo DJ Marcos “Trovão” Oliveira.O segundo cabaré, em abril de 2005, não contaria mais com uma festa, apenas o espetáculo. Outra diferença em relação ao anterior era o fato de esse segundo ter sido produzido pelos alunos do Cefac, realizado pelos “amigos, alunos e professores do Galpão do Circo” e do próprio Centro. Essa produção foi denominada Cabaré dos alunos.
Após a realização deste cabaré, Marília Ciufe Bueno, profi ssional da Área de Orientação Pedagógica do Cefac, fez uma avaliação ampliada com os alunos sobre o curso. A análise que se seguiu permitiu um entendimento de que a elaboração/criação do cabaré havia sido um
processo de motivação por parte dos alunos. Dessa forma, a direção da escola, junto com coordenadores, concretizou a proposta de incluir a produção de um espetáculo do tipo “cabaré” no currículo escolar. O mesmo seria realizado pelos alunos de todos os períodos, como uma forma e um exercício de experimentação do fazer circense em todos os seus momentos de aprendizagem, não só técnico ou artístico, mas, também, no âmbito da organização do espetáculo como um todo. Como já estava prevista a realização de espetáculos-cabaré no cronograma do Galpão e do Cefac, foi proposto que a coordenação dos mesmos ficaria sob a responsabilidade total dos alunos do Cefac.

A partir desses encaminhamentos, Alexandre Roit (coordenador/professor da Área de Manipulação e Equilíbrio) tomou para si a tarefa de conversar com os alunos sobre a proposta, além de informar-lhes que, durante todo o processo de produção, uma avaliação de seus desempenhos seria feita desde o planejamento, passando pelo resultado artístico, até a prestação de contas. Posteriormente, ele foi convidado pelos alunos para ser o diretor.

Depois de todas essas decisões e conversas, deu-se início ao processo de ensino e orientação sobre o que signifi cava a produção de um espetáculo. Uma das questões levantadas por Roit foi: qual era o objetivo do cabaré na visão deles, alunos? Quase que de modo consensual, todos entendiam como uma maneira de experimentar números e testar o que era aprendido nas aulas. Roit interveio propondo um outro olhar, o de que pudessem conceber o cabaré tendo a idéia do espetáculo como prioridade, acima das necessidades pessoais
de apresentar um número individual ou mesmo do seu número coletivo.

Desde 2004, além de ter sido professora de História do Circo, também coordenei os cursos teóricos do Cefac. Na seqüência dessas questões que foram debatidas nas reuniões de coordenadores, com a fi nalidade de fazer parte das discussões e orientações sobre a produção e organização daqueles espetáculos, construí e agreguei uma nova proposta, a de desenvolver uma pesquisa e um curso, junto com os alunos, sobre a história do conceito, dos espetáculos e das casas denominadas cabaré, relacionando-a com as artes circenses.

Essa proposta veio ao encontro de um dos objetivos de por que ter um curso teórico de história em uma escola que pretende formar artistas circenses, que é o de que: ao se estudar e pesquisar a história do circo, ter sempre, como referência, que vivenciamos um período dessa história, somos herdeiros e protagonistas dela. Ou seja, pensar num curso de história não significa só o passado, mas o ir fazendo, aqui e agora; que nós estamos permanentemente dialogando com os saberes já produzidos e comprometidos com o que se está produzindo. Nessa perspectiva, as perguntas que orientaram tanto a pesquisa quanto o programa da aula foram: Quais as histórias da produção dos espetáculos circenses e de cabaré? Quando e como elas se cruzaram? Esse modo de produzir, organizar e nomear um espetáculo circense como cabaré havia existido em algum período do processo de desenvolvimento histórico do circo? Se sim, como era feito dentro do contexto em que ocorreu? Quais as diferenças e semelhanças com o que se estava fazendo ali?

 

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