Autor: Jorge Amado
Editora: Record
Ano: 1933
Edição: Várias edições
336 páginas
Onde encontrar: Livraria Saraiva • Americanas.com
Sinopse: História sobre a vida dos negros e da gente humilde de Salvador, este livro representou uma revolução no romance brasileiro. Antônio Balduíno, figura central, tornou-se um dos personagens mais populares da novelística brasileira, e Jubiabá foi o trampolim que projetou Jorge Amado no exterior. Traduzido em diversos idiomas – francês, alemão, espanhol, grego, húngaro, italiano, norueguês, polonês, romeno, russo e tcheco – Jubiabá prosseguiu sua carreira vitoriosa. Foi para o teatro, para o cinema italiano e adaptado no Brasil para o rádio, televisão e histórias em quadrinhos.
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Verônica Tamaoki
Jorge Amado sabia das coisas. E o circo era uma das muitas coisas que ele sabia.
Em entrevista que me concedeu em 18 de dezembro de 1994, declarou:
“Fui um grande FREQUENTADOR de circo, ainda hoje espetáculo de minha preferência – e quanto menor o circo, melhor”.
Em “Jubiabá”, publicado em 1933, e que o firmou definitivamente no panorama literário brasileiro, Jorge Amado dedicou um capítulo ao que ele chamava de espetáculo de sua preferência, levando Antônio Balduino, o herói do romance, a passar uma temporada no Grande Circo Internacional – circo pequeno como era do gosto do autor, mas que já havia sido grande. E nesse capítulo de 30 páginas, a técnica e talento do romancista se aliam a um conhecimento profundo e amoroso do mundo do circo. Conhecimento que o autor já possuía aos 23 anos de vida, idade que tinha quando foi lançado o romance, o que me leva a acreditar que desde a infância Jorge Amado foi grande frequentador de circo. Assim como acredito que já havia gozado da intimidade de alguns circenses. Caso contrário como poderia escrever a cena em que mostra o velho Giuseppe acariciando seu álbum de fotografias com a mesma delicadeza com que Antônio Balduíno acaricia as coxas de Rosenda Rosedá? Só quem gozou da intimidade de um circense sabe que o amor que ele tem pelo seu álbum de fotografias é um amor quase carnal. Omitido da história das artes, sem verbete em enciclopédias, sem notas no jornal, o circense tem no seu algum a única prova de um tempo de glória.
Foi esta intimidade, esse conhecimento de causa, que levou Jorge Amado, em 1947, como deputado federal da bancada comunista, a redigir e defender em plenário o projeto que concedeu aposentadoria vitalícia a Benjamim de Oliveira que na época passava por grandes dificuldades financeiras.
Em Jubiabá, Jorge Amado apresenta o desenrolar de um espetáculo circense típico daquela época, e local – interior baiano – com números circenses na primeira parte do espetáculo, e teatro na segunda – circo-teatro. E entre os números apresentados na primeira parte, destaque para Rosenda Rosedá, a incomparável!
“A incomparável Rosenda Rosedá se nos apresenta orgulhosa em formidável tormenta emocional atingindo o áureo porto da sua carreira no tablado.”
“A tormenta emocional é um maxixe emocionante. Será que por debaixo da larga saia da baiana ela não tem roupa nenhuma? Parece que não porque mostra as coxas até ao meio e não se vê pano algum. (…) Ela rebola as ancas… Desapareceu toda, só tem ancas. As suas nádegas enchem o circo do teto até a arena. Rosenda Rosedá dança. Dança mística de macumba, sensual como dança religosa, feroz como dança da floresta virgem. (…) E ela dança de novo a sua ‘tragédia emocional’, maxixe emocionante, dança religiosa dos negros, macumba, deuses da caça e da bexiga, a saia voando, os seios saltando sob os colares para os olhos do juiz. As pernas e nádegas dos negros dançam na geral que ameaça vir abaixo. Atingiu o áureo porto da sua carreira no tablado! O juiz se levantou para aplaudir.”