Revista Sala Preta, do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas da Escola de Comunicação e Artes da USP. nº 6, 2006, ISSN 1519-5279.
Editorial: Luiz Fernando Ramos, Sílvia Fernandes
O sexto número da Sala Preta coincide com a oficialização do Programa de Pós-Graduação
em Artes Cênicas da ECA-USP. Se a revista nasceu acolhida pelo Departamento de Artes Cênicas da USP, representando a área de Artes Cênicas no antigo Programa de Artes da ECA, agora se torna, efetivamente, a revista do mais novo Programa de Artes Cênicas no país. Essa mudança só reforça nossa disposição de prosseguir veiculando a produção mais expressiva na pesquisa brasileira em Artes Cênicas, bem como de continuar estabelecendo diálogos com a reflexão que ocorre nessa área no mundo todo.
Esta edição dá continuidade à estratégia que vem sendo desenvolvida desde o primeiro número, a de eleger alguns temas específicos e em torno deles reunir as pesquisas mais relevantes em curso. Assim, na retranca que abre a revista, apresenta-se um conjunto de dez artigos que esmiúçam sob diversas perspectivas as relações entre o circo e o teatro. Eles foram selecionados por um renomado especialista no tema, o professor, pesquisador e artista egresso do circo, Mário Bolognesi, que procurou coligir uma amostra representativa da reflexão contemporânea em torno do circo e de suas correlações com o teatro. É o próprio Bolognesi quem delimita o campo no artigo que abre a seção, propondo uma discussão atualíssima em torno da ideia do chamado “novo circo”. Na seqüência, num exemplo eloquente do dinamismo da pesquisa em artes no Brasil hoje, Daniele Pimenta, circense, atriz e pesquisadora, discute as diferenças e semelhanças entre as práticas dos atores nas companhias de teatro e dos artistas no circo. As relações umbilicais entre o circo e o teatro são retomadas nos artigos de André Carreira sobre a formação do teatro argentino, de Erminia Silva sobre as dificuldades de Arthur Azevedo em aceitar a utilização dos teatros cariocas para a apresentação de espetáculos circenses, e no de Paulo Merísio sobre a influência mútua entre o circo teatro e as formas de teatralidade popular a partir do exemplo do melodrama. Daniel Marques apresenta um perfil biográfico do mítico palhaço Benjamin de Oliveira, revelando sua condição de artista múltiplo e os preconceitos da cultura oficial contra ele, e Renato Ferracini discute, do ponto de vista do teatro contemporâneo e das pesquisas do Lume, a fenomenologia corporal do palhaço. Ainda, Felizberto Sabino da Costa esmiúça as origens e os desenvolvimentos do uso de máscaras no teatro brasileiro, e Rubens Brito e Berenice Raulino explicitam as influências do circo sobre grupos de teatro paulistanos nas décadas de setenta e oitenta do século passado.