Respeitável público! Vocês vão assistir a partir de agora a um espetáculo de muita alegria, aventura, diversão e emoção! Está no ar, no chão, em imagens caleidoscópicas, e na lona de vários bairros dessa Fortaleza: o Circo. Aqui se envolvem heróis de uma resistência que se chama fascinação por esta mágica arte feita por homens e mulheres que são os artistas circenses.
A chegada do circo nos bairros ainda é um acontecimento festivo, uma autêntica celebração de gente grande e da meninada. Isso se deve à determinação dessa gente circense que teima em resistir, que não arreda o pé e nem deixa o circo morrer jamais.
Trapezistas, equilibristas, contorcionistas, mágicos, palhaços… Esses são apenas alguns dos personagens que dão vida a algo que encanta a todos: o circo.
Dar cambalhotas, fazer palhaçadas, subir no trapézio, equilibrar-se na corda bamba, como se fosse na vida quando se tem que andar no fio da navalha diante das dificuldades do cotidiano. Essa é a vida do circense.
As dificuldades enfrentadas pelo circo e seus artistas ainda são muitas. Faltam um maior e eficaz incentivo por parte do poder público, locais apropriados para suas instalações, proporcionando conforto para a platéia e uma agilidade maior para os circos nas suas montagens.
Quanto às crianças que moram nos circos a sua rotina é um pouco diferente das demais. A cada bairro que chegam são matriculadas nas escolas públicas, isso por força da lei que permite que as crianças circenses sejam aceitas nas escolas em qualquer época que o circo permaneça na localidade. E essa é uma das partes mais difíceis, pois tudo fica confuso. Cada vez que entra numa escola nova, são novos amigos e professoras. Quando está pegando o ritmo, muda novamente.
Mas a vida dessa gente é o circo e, mesmo com todas as agruras, na hora H do espetáculo, esquecem todos os problemas e ao abrir das cortinas abrem também largos sorrisos e estão magicamente a postos, alegres e prontas para maravilharem a platéia com seus números diversos e os palhaços, com suas pilhérias e momices, pra divertirem o público. O pessoal de circo não tem tempo para lamúrias, superam limites, inovam para que o público não perca o interesse pelo espetáculo. O cansaço e as dificuldades são vencidos pela magia e pelo amor ao circo.
Pelas lentes de Jacques Antunes e o seu olho perspicaz se percebe, com luz e poesia, essa lida diária do circo e da sua gente. O olhar deslumbrado e sonhador da criança, o trabalho incansável de homens e mulheres, as guloseimas como algodão doce, pirulito e as eternas maçãs do amor, o artista que atira facas e o outro que cospe fogo; compõem, com as lonas multicoloridas, esse universo fascinante do circo.
Os circos daqui levam nome que nos remetem a sentimentos, a lugares distantes ou, ainda, nos associam aos seus proprietários e familiares, como Circo Alegria, Capucho, Educativo, Gleise, Circo J. Gomes, Hingle, London, Los Ribeiros, Meridiano, Marlin, Mirtes Circo, Circo do Motoka, Neves, Tropical, World e Circo Show, fazem seus espetáculos e torna essa arte a maior diversão dos bairros.
A formação da maioria dessas pessoas, nas suas diversas funções, ainda é a transmissão de pai para filho. O circo é apaixonante, prova disso são as pessoas que não são de famílias tradicionais circenses, mas que se encantaram e vieram trabalhar nele. Para estes artistas o circo significa mais do que uma forma de viver, é amor. Não trocariam esta vida por nada.
A escola de circo formal não atende em sua plenitude a esses profissionais do picadeiro. As iniciativas existentes, públicas ou privadas, não dão conta da demanda do querer saber ou da melhoria na qualidade do repertório de números circenses que já existem. Por aqui ainda é um “vírus” salutar que mantém essa arte secular e se perpetuam por gerações. Os circos são escolas, são locais de convivência, são moradias itinerantes.
O circo, na verdade, pode ser comparado a uma pequena cidade ambulante. Todos os artistas moram em casas com rodinhas, os traillers. Cada vez que o circo muda de lugar, todas as coisas usadas no espetáculo (lona, ferragens, cadeiras, arquibancadas, acessórios, roupas, etc.) e também as casas dos artistas são transportadas. Transportam também amor, sonhos, amizades. Amizades que nem sempre perduram, pois mudam para locais diferentes, o que dificulta um pouco os relacionamentos duradouros, devido às distâncias. Resta contar uns com os outros e o bom relacionamento é imprescindível, pois é o que os torna uma grande família. É, portanto, o circo um eterno tráfego de vida e sonho deixando, por onde passa, um rastro de alegria e ligações passionais dessa arte secular que envolve a todos nós.
Circo é Paixão. E que seja assim. Que o circo possa continuar a nos encantar com o mundo de sonhos, onde as luzes acendem, as cortinas se abrem e a fantasia acontece. O riso da criançada é a alegria maior dos palhaços. Os aplausos, a maior recompensa de um artista, fazem a glória de todos os circenses dessa nossa bela cidade e desse nosso estado, de sempre resistência, Ceará, Brasil.