SILVA, Erminia: “O circo sempre esteve na moda”. In: Daniel Lins; Beatriz Furtado. (Org.). Fazendo rizoma: pensamentos contemporâneos. 1ed. Fortaleza: Hedra, 2008, v. 1, p. 90-97.
RESUMO
As pesquisas sobre o circo nos três últimos séculos, que utilizam uma multiplicidade de fontes e que permitem entrar em contato com a produção das memórias de homens, mulheres e crianças circenses, põem em dúvida a ideia de que só hoje o circo virou moda, elaborada por alguns dos profissionais dos meios de comunicação e intelectuais da academia. Nesse texto, parte-se da ideia de que os circenses, particularmente os brasileiros, há mais de dois séculos, devem ser vistos como um grupo que sempre articulou saberes e técnicas artísticos tendo como referência definidora um processo permanente de (re)elaboração e (re)significação, bem como produziam um espetáculo para cada público, manipulando elementos de outras variáveis artísticas já disponíveis e gerando novas e múltiplas versões da teatralidade circense.
É no processo de ensino/aprendizagem e no modo de organização do trabalho que se realizam as permanências e transformações do modo de fazer circo. O circense, até pelo menos a primeira metade do século XX, na sua maioria, nascia no circo ou a ele se juntava. Aquele processo tinha início desde o seu nascimento. A partir da década de 1980, há o surgimento das escolas de circo no mundo, assim como no Brasil, e isso é de fato realmente novo na história desta arte: antes, os saberes do circo eram passados nas escolas permanentes e itinerantes que eram os circos de lona; hoje, cada vez mais os artistas são formados fora desta relação. Além disso, um outro fato novo foi o surgimento dos projetos sociais que utilizam a linguagem circense como ferramenta pedagógica. Dessa forma, o “novo” não está na contemporaneidade da estética e da técnica circenses, pois estas sempre estiveram e estão em sintonia com seu tempo.
