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O “crioulo Dudu”: participação política e identidade negra nas histórias de um músico cantor (1890-1920) (pdf)

Abreu, Martha – O “crioulo Dudu”: participação política e identidade negra nas histórias de um músico cantor (1890-1920). IN: Revista Topoi. Revista de História. Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ, v. 11, n. 20, jan.-jun. 2010, p. 92-113.

Há alguns anos venho acompanhando de perto as questões que envolvem (e envolveram) a produção de uma história da música popular no Brasil. Todo pesquisador interessado nessa temática constantemente se vê desafiado por determinadas versões já cansativamente divulgadas sobre a música popular ser o traço mais forte e mais belo da identidade brasileira, ou o samba ser a marca do que temos de mais original desde os tempos da colonização.1 Música popular e samba, apesar de costumeiramente receberem atributos e origens coloniais, só afirmam-se mesmo como gêneros e negócios entre o final do século XIX e as primeiras décadas do XX.
Se olharmos para esses marcos temporais musicais numa perspectiva mais ampla, dentro do que Paul Gilroy denominou de Atlântico Negro, é fácil verificar que essa discussão não cabe nos limites nacionais, apesar de estar diretamente ligada à construção das nações. As músicas populares nos EUA, no multicultural Caribe e na Colômbia, por exemplo, emergem nessa mesma conjuntura e envolvem-se, de forma semelhante, com as discussões intelectuais sobre o papel da presença africana nas respectivas identidades nacionais e culturais. Jazz, rumba, calipso, porro e samba possuem ainda muitos pontos de afinidade, pois, além da questão nacional, se entrelaçam com a História e ação dos descendentes de escravos e africanos na diáspora, com as lutas pela cidadania e visibilidade dos músicos negros no pós-abolição e com a emergência da nascente indústria fonográfica, que tornou viável a ampla difusão de variados gêneros musicais pelas Américas. Como afirmou Matthias Assunção, gêneros musicais até então identificados com a população negra e pobre ganharam outras dimensões nas Américas a partir do final do século XIX.

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