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Respeitável público, o Circo chegou: trajetória e malabarismos de um espetáculo (pdf)

Artigo publicado na Temporalidades – Revista Discente do Programa do Programa de Pós-graduação em História da UFMG, vol. 3, n. 1. Janeiro/Julho de 2011 – ISSN: 1984-6150 www.fafich.ufmg.br/temporalidades

RESUMO: A trajetória do circo revela que essa linguagem artística, sem data e nem local preciso de surgimento, se consolidou em meio a uma forma de organização singular. De base familiar, onde cada indivíduo é indispensável para o funcionamento do todo, as habilidades circenses passaram de pai para filho e de geração em geração. O caráter itinerante do circo viabilizou contato e trocas constantes com diversos lugares, contextos políticos e sociais, recebendo influências da arte local e agregando elementos e artistas. O circo é a arte do diverso que desde os seus primórdios abrangeu e dialogou com as mais diversas formas de expressão humana. Atualmente, a arte circense continua seu processo de arte plural com o surgimento de diferentes ramificações estéticas de sua linguagem espetacular, que coexistem com a estrutura tradicional de base coletiva, itinerante e de conhecimento oral, imprescindível para a difusão da arte circense e de suas técnicas ao redor do mundo.

Senhoras e senhores, o maior espetáculo da terra!

A produção intelectual acerca do circo no Brasil vem crescendo significativamente nos últimos anos. Entretanto, esses estudos ainda são de caráter reduzido se comparados aos dos demais segmentos e linguagens artísticas. O próprio circense brasileiro teve pouca preocupação em deixar registradas sua história e sua arte, o que é preocupante do ponto de vista da preservação de uma linguagem artística que é parte integrante da nossa cultura.

A magia do circo transcende faixa etária, condição social, grau de instrução e momento histórico. De linguagem acessível e popular, o espetáculo circense tem uma característica bastante peculiar de encantar as mais diversas platéias, mesmo porque, o seu caráter itinerante possibilita atingir um público que, muitas vezes, não dispõe de condições para quase ou nenhum acesso às linguagens artísticas.

Os elementos presentes num espetáculo de circo podem falar muito de um grupo social – os circenses, para um grupo social – os espectadores, considerando que esses elementos e sua leitura dependem do meio cultural em que o indivíduo foi socializado, do processo cumulativo de conhecimento e experiência adquiridos.
O circo é uma linguagem artística plural e não apenas o seu espetáculo tem esse caráter. O pluralismo está presente desde seu surgimento como linguagem artística, que sempre dialogou com diversas formas de expressão humana.

Segundo Alice Viveiro de Castro1, os primórdios da arte circense têm ligação com a caça aos touros, informação embasada nos achados arqueológicos de uma antiga cidade da Turquia, há mais de 8.000 anos; época essa em que era admirável a arte de dominar os touros e realizar acrobacias e saltos sobre eles. Ainda segundo a autora, aproximadamente aos 3.000, as pirâmides do Egito eram decoradas com figuras de malabaristas, equilibristas e contorcionistas. Outros registros situam a origem do circo na China, onde foram descobertas pinturas de quase 5.000 anos que retratam acrobatas, contorcionistas e equilibristas. Supõe-se que a acrobacia era uma forma de treinamento para os guerreiros de quem se exigia agilidade, flexibilidade e força. Outra hipótese levantada é a de que esta linguagem artística seja proveniente dos espetáculos populares gregos e romanos e dos exercícios atléticos da Grécia. No entanto, os precedentes históricos do circo estão, na maioria das vezes, atrelados à sabedoria popular e ao conhecimento oral dos próprios circenses. Ainda são em número reduzido autores e bibliografias específicas, principalmente no Brasil, que se preocupam em estudar a origem da linguagem circense, cuja pluralidade de ramificações acaba por desembocar em duas ou mais versões. Contudo, o que se pode observar é que, em cada local em que aparecem registros, ainda que vagos, de atividades ligadas ao circo ou ao que seria o seu primórdio, é a diversidade dos objetivos com que se eram praticadas.

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