Krüger, Cauê – Experiência social e expressão cômica : os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. Campinas: Universidade Estadual de Campinas . Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Área de concentração: Antropologia Social, Mestre em Antropologia Social. Dissertação de Mestrado, 2008.
RESUMO: O desafio da análise sociológica da arte está em esmiuçar as relações entre forma, conteúdo e contexto, indo além das concepções que tratam a arte de forma desconectada do mundo social, concebendo o fenômeno estético como mero “reflexo social”, produto de um “gênio criador” ou a partir de um “modelo ritual de inversão”. O presente trabalho tem a pretensão de contribuir para a discussão sobre arte e sociedade, uma vez busca compreender e explicar a relação entre a forma expressiva cômica escolhida por um grupo de jovens artistas paulistanos, sua trajetória e o contexto social e artístico no qual se inseriu. A partir dessa perspectiva, pretende demonstrar como as características do grupo Parlapatões, Patifes e Paspalhões (que vieram a se tornar, se não a maior, uma das mais importantes referências de comédia no país), sua linguagem cênica anárquica, sua “estética do escracho”, ancorada na tradição circense, no palhaço, na improvisação e na relação direta com a platéia, se conectam às tradições imemoriais da comédia, mas também, e principalmente, a um ideário e a um modus operandi inscrito no campo teatral brasileiro. Partindo das fecundas inspirações de Victor Turner (1982), Mikhail Bakhtin (1999) e Pierre Bourdieu (2005), bem como de uma incursão histórica no teatro paulistano moderno e uma experiência etnográfica com os Parlapatões, o trabalho destaca como a figura tradicional do palhaço e do circo-teatro passam a ser o suporte de diversos significados específicos no campo teatral das décadas de 80 e 90. Nesse contexto de revalorização da linguagem circense e cômica no teatro, os Parlapatões, Patifes e Paspalhões são, ao mesmo tempo, uma das principais causas e um dos mais irreverentes efeitos.