“O Picadeiro Encantado”: tempo, festa e narrativas etnobiográficas de um palhaço de circo (pdf)

GOUVEIA, Ethel de Paula. “O Picadeiro Encantado: tempo, festa e narrativas etnobiográficas de um palhaço de circo. 158p. Tese (Doutorado). Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Programa de Pós-Graduação em Sociologia, Fortaleza, 2023.

RESUMO: Esta tese tem como núcleo central a construção de uma etnobiografia em torno do palhaço de circo mais antigo em atividade no Ceará: José de Abreu Brasil, o palhaço Pimenta. Trata-se de um artista emblemático da cena circense local, caso exemplar do ponto de vista metodológico. Septuagenário, Pimenta se autoproclama circense tradicional e é protagonista de um pequeno circo em circulação pelos bairros da periferia de Fortaleza, seu “brinquedo ambulante”. Tomado como parâmetro para compreender fatos culturais e buscar acessar um panorama da história social do circo e da cultura circense, esse cômico mambembe é aqui observado como artífice de si, mas também de lugares, “teias” e “fios” de emaranhados vitais que formam a “malhacirco” (Ingold, 2015). Pimenta é, assim, o personagem-guia através do qual acessamos cinco pequenos circos itinerantes da lona em circulação pela periferia de Fortaleza, dando passagem a memórias e narrativas tradicionais “da lona” que atravessam e iluminam a sua biografia. Ancorada à noção de observação participante e lançando mão de entrevistas semiestruturadas como estratégias de aproximação e exame dos modos de vida e trabalho de famílias e artistas circenses, esta tese também se propôs a produzir memória como gesto político de ação no presente. Para tanto, buscou-se ir além da idealizada referência ao mundo “magico” do circo para dar a ver “táticas” e “astúcias” (De Certeau, 2009) que vêm tornar possível o “viver juntos” ou uma “prática da cooperação” (Sennett, 2012), reconhecendo o universo artístico como espaço de comprometimento individual e social. Para além do lúdico e da comicidade, identificamos que o circo atua como máquina do tempo, equilibrando pratos entre diversas temporalidades, mobilizando um conjunto de gestos e palavras sobreviventes, abalando normas e valores culturais pactuados socialmente, teimando em seguir rastros da infância da linguagem, da animalidade presente no humano, do riso que escapa como expressão de alegria e dor. Eis algumas fulgurações da aventura irrenunciável do palhaço, da tese e de uma pesquisadora narradora também artífice e bricoleur que, feito circo, molda-se continuamente sob a temperatura dos encontros.
Palavras-chave: palhaço; circo; etnobiografia; narrativas.

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